terça-feira, maio 04, 2010

Natal, I have to go now


Terça-feira, 03 de setembro de 2008. Desembarcamos à linda Natal, Rio Grande do Norte. Desta vez são meus companheiros de aventura os colegas Anton, Bruna, Simone e Thiara. Após uma viagem de 36 horas, do cansaço e um dia e meio sem tomar banho, nada de descanso. Aquele era o meu primeiro congresso e a primeira vez que viajo em companhia apenas de amigos. A palavra de ordem era aproveitar ao máximo durante toda a semana e só descansar no ônibus durante o retorno à Bahia que só aconteceria no domingo de manhã. Depois de nos situarmos em nosso novo espaço, que por sinal era muito agradável, o apartamento de Bete, amiga da Thiara, nos dirigimos a Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, para o credenciamento. A estrutura é imensa. Uma biblioteca de dar água na boca, área de lazer, alimentação, artesanato, agências bancárias, feiras de livro – comprei uns seis. Gente de todo tipo, de todos os lugares, brasileiros e estrangeiros, profissionais e estudantes. A edição 2008 do Intercom – Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação abordou o tema central Mídia, Ecologia e Sociedade. Palestras, cursos, oficinas, mesas de debate e uma infinidade de opções. Em uma das palestras sobre temas livres do meio comunicacional, um vislumbre. A mídia passa o tempo todo reconstruindo o passado por meio de documentos históricos e imagens simbólicas, e dessa forma propõe à massa entender o passado contextualizando-o no presente. O impacto com opinião de gente muito crítica. “O jornalismo cultural brasileiro é medíocre, mal feito, formado por um bolo de compadres e que não desperta curiosidade”, assim descreveu o escritor e jornalista Juremir Machado, autor do livro A miséria do jornalismo brasileiro. Para Juremir o jornalismo brasileiro é marcado pelo regionalismo e ausência de subjetividade que o torna mecânico e burocrático, e o texto jornalístico é uma dramatização da história em que a mídia constrói um herói.
Um passeio pela fotojornalismo. História e evolução da trajetória no Brasil, de quando o instantâneo ainda não era possível e sim planejado. Problemas sociais tratados por autores famosos como Paulo César Boni e Lewis Hine em fotodocumentarismo para causar impacto na sociedade. O renomado fotógrafo Sebastião Salgado também foi lembrado em seu trabalho intitulado Gênesis, documentário que propõe uma reflexão social quanto à preocupante situação atual do meio ambiente. “Ou você salva o que está sendo fotografado ou a raça humana poderá ser a próxima extinta”.
Uma menina elétrica com crise da escrita compulsiva encantada com conhecimentos que jorravam em um curto espaço de tempo. Era assim que me sentia. As horas passavam rápido demais. Não havia tempo suficiente para tomar um fôlego. Mas tinha mais, muito mais. A cada segundo uma surpresa. E essa foi a melhor de todas. O diretor editorial da revista Imprensa, da qual sou assinante, Rodrigo Manzano estava ali, ministrando uma oficina sobre revista. Não tinha como participar, só o Anton teve essa sorte. Fiquei loca e já no fim da tarde percorri toda a faculdade na esperança de poder encontrá-lo. Sem sucesso e desanimada, pois jamais teria outra oportunidade para conhecê-lo pessoalmente.
Durante o dia congresso. À noite balada. Foram assim os seis dias na capital potiguá. Taverna Pub – um castelo que esconde uma boate com ornamentos medievais, Sancho Pub, Galo do Alto – um barzinho aconchegante a meia luz onde servem umas batatas fritas deliciosas. Ou melhor, em Natal por todo canto tem batata frita. Até mesmo no ponto de ônibus elas substituem as ultrapassadas pipocas. Foi no Galo do Alto que eu e Bruna descobrimos que nascemos no mesmo dia, 23 de dezembro. Na verdade essas casas de shows se concentravam na mesma avenida chamada de Holly Day, o point da diversão. Quando soubemos desse título automaticamente começamos a cantar um dos sucessos de Madonna. À noite todos os congressistas se encontravam por lá. Descobertas, experiências agradáveis, amizades, fotos, mancadas, muitas mancadas, festas, insônia, muita energia e coincidências. Essa foi a melhor parte. Foi na manhã de sexta na praia que ocorreu um dos episódios que certamente não sairá por tão cedo da minha memória. De repente aparece do nada e passa à nossa frente, nada mais que Rodrigo Manzano. Aquilo foi incrível. Anton fez a ponte entre nós. Apesar da alta temperatura, ali mesmo debaixo daquele sol escaldante foi muito prazeroso conversar por um instante sobre o novo formato da revista Imprensa lançado naquele mês em virtude da passagem de seus 20 anos. Pronto. Estava satisfeita! Ao final dessa aventura, mesmo sendo dolorosa a despedida e como diz os versos da canção que tocava no taxi no caminho de volta à rodoviária no domingo, 07, I have to go now. Que adaptamos para Natal, I have to go now.

Por Ana Lúcia Souza em 10 de setembro de 2008
Foto: Anton Roos

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