terça-feira, setembro 21, 2010

O Eucalipto de Abelardo

Foto: Angenor Vieira de Souza


Entre o asfalto e um morro,
Uma referência na Avenida JK
Depois do cemitério lá está
O Eucalipto de Abelardo Alencar

Quando seu mandato iniciou
O primeiro prefeito Abelardo Alencar
Uma fileira de eucaliptos
Na entrada da cidade plantou
E a arborização da cidade começou

Quase cinquenta anos depois
O cenário é comum na rotina de muita gente
Que passa prá lá e pra cá
Todos sabem que assim como seus companheiros
Um dia naquele lugar
O Eucalipto não mais estará

Debaixo desse Eucalipto de histórias
Um fato triste certa noite aconteceu por lá
O episódio de um triplo homicídio
Que sua copa foi testemunha ocular
Referência como parada de ônibus
Oferece sua sombra como descanso
Por quem passa pra lá e pra cá

Apesar de ser uma árvore
Com tempo curto de existência
Ainda pulsa vida
Imponente,
Quase cinquentenária
Imensa

Despendido para um lado
Hoje divide espaço
Com a geração de ficos e ninhos
Espalhados por toda a cidade
Nesse 21 de setembro
À árvore dedicado

Por Ana Lúcia Souza em 21/09/10 às 17h10min

quarta-feira, setembro 15, 2010

Intercom 2010: Voar, voar, subir, subir!

Agosto já se finda. Aumenta a ansiedade em torno da viagem de avião. A primeira. Não há outra alternativa em conta quando se trata de mais de dois mil quilômetros pela frente, Bahia - Rio Grande do Sul, mas necessariamente até Caxias do Sul, sede do 33º Intercom – Congresso promovido pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação.

Ainda no aeroporto Juscelino Kubitschek em Brasília, na sala de espera um susto. O meu comprovante de embarque parece ter sumido. Desespero também das colegas Bruna e Jackeline. Bolsa revirada sem sucesso. A aeronave 3769 já se encontra em solo e a qualquer momento seremos chamadas para o embarque. O movimento chama a atenção de outras pessoas.

– Poxa. Cheguei até aqui para dar errado justo agora a ponto de não realizar meu grande sonho de voar? – Pensei.

Mas um bolso ainda não fora revistado, o único que permanecia fechado. Na agonia esqueci de revistá-lo. Ufa! Está aí o comprovante procurado. O sufoco de outrora agora é motivo de graça. Estava tudo normal demais para ser verdade.


Foto Ana Lúcia Souza



Dentro do avião, o assento 19 A fica ao lado de uma janela e paralelo à asa esquerda. É onde me sento. Cerca de 150 passageiros estão a bordo. Todos acomodados, a aeronave inicia o taxiamento até a pista de decolagem enquanto a comissária de bordo passa as instruções de segurança. Do lado direito duas senhoras gaúchas a caminho de Porto Alegre.

- É a primeira vez que tu voa guria? Analisa a que está do lado.

- Sim. Respondo em meio à adrenalina.

Agora são 16 horas e uma sensação estranha me passa dos pés à cabeça. Não ouço mais o barulho da aeronave. A sensação é de que o avião está parado no ar. Olho a janela e algumas nuvens passam devagar. Finalmente estou voando! – podia gritar isso, mas me contive em risos. Lá embaixo, aos poucos Brasília vai ficando para trás. A paisagem é marcada por desmatamentos, queimadas e lavouras. Algumas turbulências aguçam a viagem que se torna ainda mais emocionante.

Após a primeira hora de vôo, impaciência. Enquanto algumas pessoas dormiam, liam, eu sentia fome. Não havia muito que fazer e o cheiro do lanche que as duas senhoras comiam ao lado aumentava meu apetite, então tratei de me acalmar. Enfim o lanche é entregue pelo serviço de bordo. Snack de chocolate com refrigerante. Não era o suficiente. Pensei comigo. Mas a senhora ao lado não foi nada discreta.

- Bah! Nem suco eles tem. Antigamente no avião serviam almoço, sanduíche, suco. Hoje, pra quê abaixar essa mesa, só para colocar o copo, daí. Tu tem que trazer um lanche a mais guria. Resmungou a passageira veterana enquanto se virava para devorar outro lanche que trazia na bolsa.

Pouco mais das 18 horas e o comandante anuncia a aterrissagem. Aproveitando-se da condição de veterana, a senhora que está ao meu lado faz questão de passar algumas informações.

- Tu vê aquilo ali? É o reverso. É aquela parte da asa que se abre e é responsável por controlar o freio do avião no ar. Tu vais ver como a asa fica grande. Aquele avião da TAM, que caiu, tu te lembra? Foi por causa do reverso. Se ele não abrir a gente cai, sabias? Explicou a senhora apontando para uma parte específica da asa.

Não parecia ser uma boa hora para ela dizer aquilo. Meus olhos grandes e assustados passaram por algum tempo fixos em direção a asa. Até o momento em que os tais reversos desempenham satisfatoriamente sua função. Mais uma vez um calafrio na barriga por conta de pequenas manobras e da descida gradativa do avião e o pouso no aeroporto Salgado Filho. O relógio marcava 18h30min. Em Porto Alegre 17º. Começava a chover e ventava naquela noite de 1º de setembro.  

Continua...

Por Analítica em 15. 09.10

Em família

Eles eram assim.....

Da direita para esquerda: O pai Angenor e os filhos em ordem de tamanho Agenison, Adenilton, Urany, Luciane e Erivan


E ficaram assim.....


Mais de 20 anos depois

A Irmandade Souza cresceu.....


As Ana's, Lúcia e a irmã caçula Six

E em 31 de agosto de 2010 se reuniram para celebrar o aniversário de 60 anos do patriarca Angenor Vieira de Souza


Uma homenagem ao nosso velho pai

Das lembranças da minha infância, ainda guardo na memória quando meus irmãos mais velhos ainda moravam lá em casa. A casa era cheia e animada. Sete irmãos, painho e mainha. Meu pai viajava muito e quando ele chegava íamos ao seu encontro ainda na praça. A mesa da cozinha sempre mantida encostada na parede era afastada geralmente aos domingos, quando nos setávamos em volta para degustar uma deliciosa galinha caipira preparada por minha mãe. As panelas eram imensas. À tarde meu pai se levantava e iamos todos para o quintal para repartr uma melancia bem grande. Era tão bom. 

Hoje, meu pai, embora mais presente em casa, ainda viaja, bem menos que antes. E nós filhos, cada um seguiu seu caminho. O primogênito Agenison, Urany e Erivan resolveram seguir a mesma profissão de caminhoneiro que meu pai. Adenilton é policial militar. Luciane é pedagoga. Eu sou jornalista e a caçula escolheu estudar biologia. Minha mãe fica em casa, sempre a orar por todos. Apesar dos compromissos e obrigações que muitas vezes comprometem nos encontrarmos frequentemente, a nossa casa ainda é o ponto de chegadas e partidas. E são em ocasiões como aniversários que aproveitamos para reunir ainda que com muito esforço, e não só a irmandade Souza, mas os netos - mais de 10 - noras, amigos e coligados.


Família reunida

Alguns netos



Por Ana Lúcia Souza em 15.09.10

quinta-feira, setembro 09, 2010

Maria de seu Roberto, aquela que vendia banana na feira

“Do jeito que Deus quer”. Assim Maria Salomé de Souza define sua história de vida. Há 15 anos não sai de casa por conta de problemas de saúde. Vive da pensão deixada pelo marido em sua casa modesta, à rua Heliodório Xavier dos Santos, 156 no centro da cidade.

Da porta lateral que dá acesso à cozinha sai uma senhora de cabelos brancos, pele alva, voz aguda e tronco curvado pela idade. Ela caminha em direção a copa apoiada em uma bengala e senta em uma cadeira de repouso acolchoada. Uma roda de fiar fica ao seu lado esquerdo, onde descansa uma caneca e alguns remédios. Em cima da mesa, garrafa de café, xícaras, o Evangelho segundo o Espiritismo de Alan Kardeck e o velho rádio.

“Todos os que chegam aqui me contam o que acontece lá fora na cidade. É por meio desse rádio que fico sabendo as notícias do Brasil e do mundo”, declarou. Maria Salomé tem uma rotina inalterada. Prioriza a mesma sequência todos os dias: acordar cedo, tomar o café e ler o evangelho, assim como o banho, em dias frios às 13 horas, e quando o tempo está mais quente às 16 horas.


Foto: Ana Lúcia Souza

Nasceu em 23 de setembro de 1920 em Roçado Velho, localidade de São Desidério, onde viveu com a mãe Julia Pereira da Cruz e os cinco irmãos até os dez anos. O pai ela não conheceu. Casou-se com Roberto Pereira dos Santos, natural de Santa Maria da Vitória, conhecido de sua infância e não teve filhos. À pé, saíram de São Desidério em 25 de julho de 1940 chegando ao Goiás no final de setembro deste ano.

Trabalharam em muitos lugares e assim se passaram 28 anos, até regressarem a Bahia com outras três famílias, chegando em São Desidério em 19 de setembro de 1969. “Era o dia de festa da Padroeira Nossa Senhora Aparecida. Tinha muita gente na rua. Graças a Deus até hoje eu estou aqui”, sentenciou.

Mas foi na feira livre que Maria Salomé se tornou popular. A feira era o principal meio de sobrevivência, onde ela costumava vender café com bolo e posteriormente almoço. A barraca de Maria Salomé tinha um diferencial. Com muita criatividade ela mesma engrenou o planejamento de um fogão improvisado no meio da feira. A comida era feita na hora e vendida em prato feito. “Cozinhava bem sem saber”, gava-se. A atividade rendia pouco dinheiro e durou até 1976. “Do quê vamos viver agora?” Perguntou o esposo. “Do jeito que Deus quiser”. Retrucou a esposa.

Engenhosa, Maria passou a comercializar doce de leite caseiro e depois bananas, na feira e em casa. “A primeira sala e um quarto costumavam ficar cheios de cachos de banana. Muitas pessoas vinham aqui em casa para comprar”, completou.

E assim relembra ‘Maria, aquela que vende banana na feira’. Alegria é uma das marcas de sua personalidade. É na cadeira de repouso, ao lado da velha roda fiar e do rádio, onde Maria Salomé, para quem não falta assunto nem ouvintes, passa a maior parte do tempo, ‘do jeito que Deus quer’, pacientemente a conversar com quem chega, e contar histórias, muitas histórias.

Por Ana Lúcia Souza
Texto publicado na 6ª Edição do Jornal de São Desidério

Dica de Leitura: Amar, verbo intransitivo (Mário de Andrade)

  “As conveniências muitas vezes prolongam a infelicidade”. Em ‘Amar, verbo intransitivo’, embarcamos com Mário de Andrade, em uma obra cara...