segunda-feira, janeiro 30, 2023

Mama (Terry McMillan)


"Quem estaria lá para juntar os cacos se ela deixasse desmoronar?". Uma obra profunda e marcante, em 'Mama', da autora norte-americana Terry McMillan, viajamos até os Estados Unidos da década de 1960 e conhecemos Mildred Peacock, mulher, mãe, negra que vive numa sociedade segregacionista e passa por muitos desafios para criar sozinha os cinco filhos: Freda, Dim-Dim, Boneca, Lindinha e Anjinho. 

Na pequena cidade de Point Haven, Mildret não tem papas na língua, principalmente quando se trata dos filhos, de quem cobra muito, fala e faz o que quer, muitas vezes se expressar de forma bem rude, talvez por essa ser a melhor maneira que encontrou para camuflar a mulher forte, corajosa e tão sensível ao mesmo tempo, e para ter autoridade sobre os filhos, é por eles que faz suas loucuras, ou por quem se abdica de viver certos luxos.

"Um dia quando você ficar mais velha, vai perceber que precisa parar de se preocupar com o que todo mundo vai pensar de você e o que vai dizer sobre você, porque todo mundo vai falar de você de qualquer jeito, não faz diferença o que você fizer", página 104. 

Freda, a filha mais velha, jovem com muitos sonhos, destaca-se na narrativa pela maturidade e por ajudar a resolver os problemas da família. Com um ponto de vista crítico, espelhado em vivências sofridas e nos reflexos de sua mãe, por vezes assume uma postura autoritária que poderia ser confundida com a da própria personagem principal. "Então Mildred estendeu a mão para a filha como se ela fosse um presente que sempre quis e finalmente tinha conseguido", página 283. 

Publicada em 1987, é uma obra envolvente que marca o início das leituras da Tag Curadoria em 2023, indicada pelo curador e escritor Itamar Vieira Jr.  Apreciei a sensibilidade da escrita de Terry e a fidelidade na apresentação dos personagens, de como descreve suas características. "Elas abraçaram-se. Deram tapinhas nas costas uma da outra como se tivessem caído, arranhado os joelhos e não tivessem mais ninguém a quem recorrer em busca de conforto. Parecia que se abraçavam pelo passado e pelo futuro", página 284.


Na manhã de (04) de fevereiro, as taggers do Clube da Leitura Curadoria Barreiras, se reuniram para discussão da obra. Um encontro regado a café, partilha de depoimentos e muitas gargalhadas.

Por Analítica




segunda-feira, janeiro 09, 2023

O avesso da pele (Jeferson Tenório)


"É necessário preservar o avesso, você me disse. Preservar aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso modo de estar no mundo". Em 'O avesso da pele', do autor Jeferson Tenório, conhecemos o jovem Pedro, e embarcamos em suas memórias marcadas pela morte do pai Henrique, um professor assassinado, vítima do racismo.

O texto em prosa é carregado de emoção e narrado pelo personagem principal, Pedro que em meio a solidão no apartamento do pai, revive lembranças e cria uma série de perspectivas que poderiam ser partilhadas com a presença paterna. 

A narrativa é marcada por trechos que descrevem temáticas como o preconceito racial, pobreza e violência com base nas vivências de uma família negra que tem por cenário a cidade de Porto Alegre.

A leitura fluiu muito bem e o livro, que foi presente do grupo do Clube de Leitura da Tag Curadoria Barreiras, foi escolhido para ser a primeira leitura do Analítica de 2023. É o primeiro contato do blog com o trabalho do escritor. O romance lhe rendeu o prêmio Jabuti em 2021.

"[...] o professor Henrique Nunes não morreu por mera circunstância da vida, morreu porque era alvo de uma política de Estado. Uma política que persegue e mata homens negros e mulheres negras há séculos", páginas 179 e 180.

Por Analítica

Dica de Leitura: Amar, verbo intransitivo (Mário de Andrade)

  “As conveniências muitas vezes prolongam a infelicidade”. Em ‘Amar, verbo intransitivo’, embarcamos com Mário de Andrade, em uma obra cara...