quinta-feira, julho 30, 2020

Sul da fronteira, oeste do sol (Haruki Murakami)




"Quando olho pra você, às vezes me sinto olhando para uma estrela distante (...) É uma luz muito nítida, mas foi emitida há dezenas de milhares de anos".

'Sul da fronteira, oeste do sol', assinala o meu primeiro contato com o escritor Haruki Murakami. A obra de ficção japonesa tem por protagonista Hajime, filho único que desde a infância aprendeu a conviver com a solidão. Com poucos amigos, a leitura e a boa música se tornaram seus principais hábitos.

Apesar de ter cursado faculdade, constituído uma família e ter conquistado a tão sonhada estabilidade financeira, com o passar dos anos ele considera como se não pertencesse a esta realidade almejada e vive perseguido por uma sensação de vazio existencial em que predominam questões não resolvidas de seu passado. 



Pode-se apontar o adultério como uma temática preponderante da trama. Em uma última tentativa de Hajime em se encontrar, o personagem volta ao passado e tenta reviver uma breve e única oportunidade que lhe reserva um misterioso episódio final. 

Aprovei o livro e a gostei da escrita de Murakami. O autor apresenta uma escrita simples e bem envolvente em que as ideias são bem organizadas e desenvolvidas em capítulos curtos. O enredo prende a atenção do início ao fim o que contribui para uma leitura que deslancha tranquilamente.

Texto e fotos: Analítica









quarta-feira, julho 29, 2020

Os sete últimos meses de Anne Frank (Willy Lindwer)



Interessada pela história de Anne Frank, vou selecionando e comprando bibliografias que relatam a respeito da história da menina judia que se tornou conhecida mundialmente pelos registros feitos em seu próprio diário, durante o tempo que viveu com sua família escondida em um anexo no período da Segunda Guerra Mundial. Os relatos desse diário, que datam de 12 de junho de 1942 a 1º de agosto de 1944, foram achados e organizados por seu pai, Otto Frank, único sobrevivente da família Frank, e posteriormente a guerra publicados em mais de 50 países. 

Resultado de uma pesquisa de dois anos do cineasta holandês Willy Lindwero documentário 'Os sete últimos meses de Anne Frank' foi realizado a partir de entrevistas filmadas de seis mulheres judias Hannah Elisabeth Pick-Goslar, Janny Brandes-Brilleslijper, Rachel Van Ameronger-Frankfoorder, Bloeme Evers-Emden, Lenie de Jong-Van Naarden e Ronnie Goldstein-Van Cleef, que tiveram a oportunidade de conviver com Anne Frank e sua família, seja até mesmo antes da guerra, mas principalmente enquanto prisioneiras nos campos de concentração. Somente a partir daí, ele reuniu e organizou os depoimentos e o documentário ganhou outra versão em formato de obra literária, tornando o 'conteúdo final do best-seller Diário de Anne Frank, que relata o tempo entre a prisão de Anne e sua morte'.

Adquiri esse livro por um valor simbólico numa determinada revista. A obra chama a atenção por trazer justamente depoimentos que se configuram no que seria uma sequência do 'Diário de Anne Frank' com relatos narrados por testemunhas oculares de quem viveu a guerra e conviveu com as irmãs Anne e Margot Frank em seus últimos meses de vida, destacando aspectos importantes dessa história, e em muitos trechos, inclusive, através dos relatos dessas personagens secundárias, digamos assim, desmistificam um pouco a imagem que se criou em torno de Anne Frank. Em suma, a leitura impressiona pela riqueza de detalhes e relatos carregados de emoção e que desvendam os horrores e angústias vivenciadas nos campos de concentração em Westerbok, Auschwitz-Birkenaw e Bergen-Belsen, onde Anne morreu em março de 1945, semanas antes da libertação. Também na metade do livro a obra reserva alguns registros do acervo fotográfico de Anne e das testemunhas. A seguir destaco alguns trechos do depoimento de cada uma das seis personagens.

"Em Auschwitz, nunca refleti muito sobre como sair viva. Eu tinha me familiarizado com as fornalhas e suas chamas, com a fumaça constante. Não sabia de nada. Não sabia por que tinha de ficar ali, parada, durante as contagens. Ou por que não estava naquele mar de chamas. Nunca entendi como uma pessoa sequer saiu viva daquilo", Raquel Van Amerongen.

"Acho que foi assim com Anne. Quando estava no esconderijo, o que, de modo geral, não era uma situação nada saudável, ela acabou se rebelando contra a mãe. Porém, no campo, tudo isso caiu por terra. Uma oferecia apoio a outra, então uma mantinha a outra viva - mas ninguém podia lutar contra o tifo", Bloeme Evers-Emden.

"Depois desses dois ou três encontros na cerca de arame farpado em Bergen-Belsen, não voltei a vê-la, pois o pessoal no campo de Anne foi transferido para outra seção. Isso aconteceu mais ou menos no final de fevereiro. Foi a última vez que vi Anne viva ou conversei com ela", Hannah Elisabeth Pick-Goslar.

"Lembro que Anne teve uma erupção cutânea e acabou indo parar no Kratzeblock. Ela teve sarna. Margot foi voluntariamente ficar com a irmã. As duas ficavam uma com a outra, e a mãe entrou em total desespero. Ela sequer comeu aquele pedaço de pão que recebeu. Com ela, escavei um buraco sob a parede de madeira do galpão onde as meninas estavam. O chão era de terra úmida, então dava para cavar um buraco se você tivesse força. A senhora Frank ficava ao meu lado, perguntando: 'Está dando certo?' E eu respondia: 'Sim'. Escavei abaixo da madeira e, através do buraco, podíamos conversar com as menina. Margot pegou o pedaço de pão que passei por ali e as duas dividiram", Lenie de Jong-Van Naarden.

"E nos galpões, voltamos a ver Anne e Margot. Sim, também a mãe delas e a senhora Brommet, que cuidou tanto de sua filha quanto de mim. (...) As irmãs Frank estavam com uma aparência terrível, as cabeças e os corpos cobertos por marcas e inchaço, causados pela sarna. Elas aplicavam um pouco de sálvia, mas infelizmente não podiam fazer muito. Estavam em estado lastimável, penoso - era assim que eu as via. Não tinham roupas; tudo havia sido tirado de nós. Estávamos deitadas ali, nuas, debaixo de uma espécie de cobertor", Ronnie Goldstein-Van Cleef.

"Primeiro, Margot tinha caído da cama no chão de pedra. Não conseguiu mais se levantar. Anne morreu um dia depois. Na época, tinhamos perdido totalmente a noção de tempo. É possivel que Anne tenha vivido um dia mais. Três dias antes de morrer de tifo, havia jogado todas as roupas fora durante uma terrível alucinação. Aconteceu pouco antes da libertação", Janny Brandes-Brilleslijper. Em 1946 ela escreveu a Otto Frank para avisar sobre a morte das filhas.

Palavras-chave: Anne Frank - Guerra - História - Relatos - Emoção

Por Analítica






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