sexta-feira, novembro 19, 2010

De leigos a diplomados

Ao lado dos antigos papéis que ainda guarda com nome dos alunos e letras de velhas cantigas, Anísia rememora as aulas. “Eram cerca de 30 a 35 alunos que eu ensinava até a 3ª série. Crianças a adultos, todos juntos. Tinha o quadro e o giz era umas pedrinhas que riscavam muito bem. Eram poucos os métodos, era um tempo muito difícil. Até hoje guardo minha palmatória de relíquia”.

Forte incentivadora de seus alunos, Anísia costumava ceder material escolar quando os alunos não tinham condições para comprar. Na sede trabalhou do fim da década de 60 até se aposentar em 1980, sendo na escola Silva Jardim onde mais lecionou. “Subia o morro com filho escanchado de um lado, os livros e a esteira do outro. Quando chegava lá deixava a criança sentada na esteira enquanto dava aula. Lavava roupa à noite e sempre costurei. Era muito sofrido, mas me sinto feliz, satisfeita. Muitos ex-alunos hoje, homens e mulheres feitas passam por mim e me conhecem”.


Alaídes Gonçalves França, hoje professora e assessora técnica da Secretaria de Educação, foi alfabetizada por Anísia. “Nos dias de tomar a lição, se fosse o alfabeto, primeiro passava toda a lição cantada e depois individualmente, fora da sequência. Mesmo sem formação profissional, a professora sabiamente adotava métodos de ensino para sistematização, avaliação e aprendizagem dos alunos, fazendo com que as letras fossem aprendidas e não apenas memorizadas. Fazia um buraquinho em um pedaço de papel e o colocava sobre a letra e perguntava salteado. Quem não lesse corretamente, levava bolo e ficava de castigo, geralmente em pé no canto da sala. A tabuada também era cobrada, decorávamos por “casa”.

Ao final da 4ª série os alunos eram submetidos a uma prova chamada de admissão. Se passasse iriam para a 5ª série. Era o período em que muitos jovens se dirigiam a Barreiras para cursarem o Curso Ginasial Cenecista, de 5ª a 8ª séries, correspondente à Campanha Nacional de Escolas da Comunidade CNEC, uma alternativa entre escola pública e particular. Cursar o ginásio não era gratuito e os pais pagavam uma taxa simbólica.

A partir da década de 70 a educação do município passa a tomar novos rumos com a implantação do Curso de Ginásio Cenecista correspondente de 5ª a 8ª séries. Iniciativa do ex-prefeito Manoel Rodrigues de Carvalho com empenho das professoras Cleonice Lopes e Ana Rosa de Almeida, que foram diretoras, e do professor Almiro Almeida que também foi secretário da CNEC.

Por volta de 1981 passa a ser oferecido o curso de Magistério no município também pela CNEC que formou a primeira turma em 1982. Em 1988 passa a ser oferecido o curso de magistério em regime estadual no Colégio Presidente Médici e como os pais não iriam continuar pagando pelo mesmo curso que estava sendo oferecido de graça pelo estado, por essa razão a CNEC é extinta nesse mesmo ano. O curso de magistério em São Desidério vigorou até 2002.

Os professores leigos deixaram um legado na vida de muitos saodesiderenses que trilham nova história assistindo o trabalho de profissionais habilitados para o cargo que atuam por todo município.

Por Ana Lúcia Souza em 19.11.10
Matéria completa publicada na 8ª Edição do Jornal de São Desidério

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