terça-feira, maio 04, 2010

Medalha de prata


Uma das boas lembranças que guarda da faculdade são as aventuras que você se sente na obrigação de fazer para testar sua coragem ou até mesmo para dar uma alavancada na sua vidinha monótona. Ainda mais quando se esses momentos coincidem justamente em pleno período de interdisciplinar, um daqueles trabalhos finais do semestre, quando os seus miolos fervem, a pouca paciência fica ainda mais escassa e só você pode tomar as rédeas da situação. Foi assim que acordei no dia 28 de agosto de 2008. O dia que eu precisava provar para mim mesmo o que ainda parecia insegurança. Mais uma vez a companheira de aventura era Jackeline Bispo. Se bem que nessa situação ela mais se caracterizava como a vítima da história. Pobre Jackeline!

Tudo aconteceu porque naquela manhã precisávamos ir à faculdade, em Barreiras para buscar o cinegrafista e todos os equipamentos de forma segura. Afinal essa era uma das principais exigências da faculdade quando se tratava de deslocamento de material. O nosso objetivo era realizar um trabalho de reportagem da disciplina de telejornalismo que teria que ser feito em São Desidério. Os locais foram estrategicamente escolhidos por nós. No jardim da praça Juarez de Souza, em frente à lotérica, na avenida Dr. Valério de Brito e em frente ao fórum, que concentravam grande movimento. Era a oportunidade para que nos vissem empenhados naquela atividade jornalística, que até então era desconhecida para muitos conterrâneos. De última hora todo o planejamento que fizemos foi por alto. Pegamos um moto taxi e fomos até a casa de meu irmão onde estava o carro modelo fiesta cor vinho, proprietário do veículo.

Eram mais de 08h30min. O nosso motorista não pode nos acompanhar, estávamos atrasadas e eu para variar desesperada. Não havia mais tempo para pensar. Mas me foi dada uma carta branca. Entramos no carro. Quem aprende nunca esquece, não é mesmo. Penei para sair da garagem. Afinal a ré nunca foi o meu forte. Meu pai uma vez me falou que para frente eu dirijo bem. Até que consegui sair. A Jacky ficou logo desesperada. Pensou na possibilidade de chamar outra pessoa para dirigir. Neste instante eu parei o carro e segurei firme os ombros dela saculejando-os. Falei do quando aquela era a oportunidade perfeita para eu treinar mais um pouco e perder o medo da direção, afinal não poderia haver melhor momento para unir o útil ao agradável, nesse caso ao perigo, pois se tratava de um percurso que na minha humilde experiência de direção considerava longa distância e sem a presença de outro motorista. Já havia dois anos que tinha habilitação e meu pai nunca foi assim permissivo com o seu carro. Alguns dizem que ele não é louco.

Enquanto abastecíamos antes de sair da cidade, minha perna tremia bastante a ponto de provocar uma arrancada no acelerador. Daí então a nobre colega atendendo um pedido meu colocou a música Man!I feel like a woman de Shania Twain bem alto que me fez relaxar. Saimos a toda velocidade rumo à Barreiras. As pernas foram se acalmando. Daí pude perceber como estava um dia lindo de sol e como aquela música elétrica combinava com o momento de avanço em minha vida. Nem eu mesmo acreditava.

Conseguimos chegar em paz à faculdade. Ao entrar no carro disfarçamos a situação para que o cinegrafista Carlão não percebesse. Mas foi inevitável e ele foi perguntando logo se tinha carteira. De volta a cidade somente ao chegar em frente casa minha mãe soube que era eu quem dirigia e não podia mais me impedir. Muitas pessoas viram o nosso desempenho na rua. Se bem que quando chegou minha vez de fazer a reportagem eu já havia esquecido o texto depois de tanta adrenalina. Trabalho pronto. Agora tinha que levar o cinegrafista de volta à faculdade. Tranqüilo. Rimos muito. Era 12 horas quando saímos de Barreiras para São Desidério mais uma vez. A quarta e última viagem da manhã. Agora somente eu e Jackeline. E quando finalmente tivemos aquela sensação de dever cumprido e até achamos estranho porque tudo havia dado certo demais, sentimos um cheiro de queimado. Opa! E de repente um motoqueiro mensageiro ultrapassa apontando para o carro. Ficamos a pensar o que seria. Um ladrão talvez? A alternativa foi descartada quando ao olhar no retrovisor percebi fumaça saindo do pneu traseiro. Aquilo foi o suficiente para encostar, sairmos do carro desesperadas e correr para longe, pois não sei porque o Carlão foi falar para a Jack que o motor desse modelo de carro costuma pegar fogo facilmente.

Debaixo daquele sol, sem água, sem a sombra de nenhuma árvore por perto, estávamos a poucos quilômetros de Baraúna. Nenhum carro parou porque esquecemos de fazer as devidas sinalizações. Ligamos para o dono do carro e ele providenciou socorro. A culpa foi de um freio de mão mal desengatado, por isso não completamos a última viagem e voltamos em outro carro. O uno de cor prata condizia exatamente a condecoração que fazia jus ao momento. Medalha de prata.

Por Ana Lúcia Souza em 28 de agosto de 2008
Foto: Jackeline Bispo

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