quinta-feira, junho 28, 2012

São João dos velhos tempos



Lembro com muita saudade do São João da minha infância. Daquela tarde fria do dia 23 de junho, véspera da data oficial do São João, comemorado em 24, quando as famílias preparavam para acender as fogueiras em frente às casas. Era uma das datas mais aguardadas do ano. As paneladas de canjica que podíamos encontrar em qualquer casa que visitássemos.
A noite de luar, céu estrelado com fogos a iluminar. Lembro-me das típicas bombinhas de salão que comprávamos para estourar, pois minha mãe não deixava que eu e minha irmã soltássemos traques. Minhas primas compravam traque e nós admirávamos isso porque era proibido para nós. Mas sempre nos encontrávamos na casa da vó Si à noite para, ao redor da fogueira, onde a família se reunia para conversar e proferir versos a São João enquanto um a um, realizava o tradicional pular da fogueira. E lá estávamos, eu e minha irmã soltando bombinhas de salão enquanto minhas primas soltavam traques.
O cheiro da fumaça na roupa e no cabelo era inevitável. Mas era uma sensação muito boa, olhar as ruas de antigamente, ainda sem asfalto, e contemplar a fileira de fogueiras em frente às casas. Era raro a casa que não tinha fogueira acesa. Hoje ocorre o inverso. Depois de certo tempo esse costume tornou-se aos pouco esquecido pela população dos centros urbanos que não apresenta mais o mesmo entusiasmo para vivê-la. Sempre quando posso, costumo nessa data recorrer à zona rural onde a tradição ainda predomina.
A imagem que se configura do São João na zona rural é da fogueira sobre o chão batido aconchegando o encontro de famílias. A panela de quentão fica na brasa o tempo todo dividindo espaço como o milho que assa. Enquanto jogam conversa fora deliciam-se com canecos e canecos de canjica e outras iguarias típicas como o pé de moleque, amendoim torrado. O luar é tão bonito e nítido por conta da pouca iluminação e o céu estrelado se enfeita com fogos. E para completar a paisagem um forrozinho pé de serra para animar e espantar o frio.


Dica de Leitura: Amar, verbo intransitivo (Mário de Andrade)

  “As conveniências muitas vezes prolongam a infelicidade”. Em ‘Amar, verbo intransitivo’, embarcamos com Mário de Andrade, em uma obra cara...