sexta-feira, agosto 31, 2012

Meu pai, meu ídolo


Meu charmoso pai tocando flauta numa roda de samba
Em agosto, além de comemorar o dia dos pais, no segundo domingo, também é especial para mim por ser o mês do aniversário de meu pai Angenor, dia 31, meu painho que amo muito. Ele simplesmente é o meu maior exemplo, o modelo de honestidade, de caráter, de superação, de pai, de homem. Ele sempre me incentiva e me aconselha nos momentos mais difíceis em que sinto medo, dúvidas e preciso de atenção.

O que temos em comum talvez seja a inquietação. Eu o desafio e ele me desafia. Mas eu adoro quando ele enfim se rende aos meus argumentos e percebe que tenho razão e que eu cresci. Tudo bem que quando era pequena, ele a jogou fora minha fita cassete da Xuxa, que deu problema de tanto que eu a ouvia. No instante em que o pedi para arrumar, ele egou a da minha mão e a jogou do outro lado da rua. Ele aje rápido! Mas a nossa comunicação é muito boa, e esse, acredito que seja o motivo pelo qual nos entendemos bem e eixo norteador para que eu conseguisse sua confiança. Sempre com diálogo. Ele é meu amigo, meu confidente.


Com meus pais e meus sete irmãos
Somos sete irmãos e nas minhas lembranças da infância bastava que meu pai olhasse de lado e com o semblante fechado, já entendíamos que ele estava nos repreendendo por algum erro. Ele sempre trabalhou fora e a casa só estava completa com sua presença. Às vezes quando eu já estava dormindo, ouvia o barulho do caminhão chegando em frente casa, e isso me fazia sentir mais tranquila e segura. Ele abria a porta do quarto para nos ver. Aliás isso é algo que ele faz ainda hoje, principalmente aos domingos pela manhã. Outras vezes eu e meus irmãos íamos encontra-lo na praça do antigo Mercado Municipal, onde ele também costumava estacionar o caminhão. Depois de abraça-lo, retornávamos para casa juntos.

Em épocas em que a família era grande, os domingos costumavam ser animados. Era o único dia em que a mesa era afastada da mesa. As panelas eram grandes e fartura nunca faltou, principalmente aos domingos quando galinha caipira preparada por minha mãe era um prato exclusivo. Lembro que uma vez minha catequista perguntou o que meus pais faziam para manter a família unida e eu lembrando desse fato comum nos nosso domingos lá em casa respondi que minha mãe fazia “galinha caipira”. À tarde depois que painho acordava todos íamos para o quintal e ele partia uma saborosa melancia.


Com minha irmã  e meu pai no lançamento do meu livro
Meu pai nasceu no povoado de Ponte de terra e perdeu seus pais muito cedo, por isso foi criado com seus padrinhos Anezima e Manoel. Teve uma infância pobre, limitada e desde cedo confeccionava seus carrinhos e caminhões de brinquedo, motivo que o incentivou a buscar com persistência seu maior desejo, o de se tornar autônomo ao adquirir seu primeiro caminhão, sonho que se concretizou somente aos 52 anos. A data ainda lembro, era 20/02/2002.

Apesar de cursar até a 4ª série do antigo primário, seu senso de autodidata se configurou em rimas dos versos do Testamento de Judas, que são relatos em forma de versos de cunho jocoso acerca de personagens e da história de São Desidério, realizado por ele aos sábados de aleluia em praça pública. Mas este é um assunto que quero tratar com mais ênfase em outro texto. Penso que herdei um pouco dessa sua sensibilidade para a escrita, versos, rimas e que isso de certa forma contribuiu para me tornar uma jornalista. Penso também que ele poderia ser um bom repórter, pude comprovar isso durante seu acompanhamento a algumas viagens no período em que eu e minhas colegas Jackeline e Luciana buscávamos histórias para embasar nosso livro-reportagem Um rio de histórias, um projeto que ele apoiou. Sempre de vez em quando ele opina sobre alguma coisa que deveria escrever, como por exemplo uma das primeiras árvores plantadas na avenida JK desta cidade, como já contei por aqui. Ah! Ele também gosta de tirar muitas fotos e fazer seus registros. Essa é outra característica comum entre nós.


No almoço comemorativo do aniversário de painho este ano, com a presença da vó e da Michelly
Uma de minhas descobertas foi saber que ele toca flauta rústica. Sempre soube que ele gosta muito de samba, mas não sabia que ele dominava esse instrumento. Le não fica parado, mesmo nos fins de semana sempre está a procura de algo para fazer, consertar. Gosta de acompanhar vaquejadas, ligar o som do carro bem alto e tomar sua cervejinha de vez em quando. Mas também é muito teimoso!

Muitas vezes pode ser difícil reunir todos os irmãos, mas acredito que todos se espelharam um pouco na personalidade de painho, admiram o seu esforço para conquistar seus objetivos porque ele trabalhou tanto desde pequeno, quantas noites mal dormidas para dar o sustento a família, tantas vezes que sentiu fome, frio e dor sem ter ninguém por perto para ajudá-lo. Por tudo isso e muito mais é que o amo muito. Que Deus o abençoe e lhe dê saúde para continuar alegrando e influenciando seus filhos a ser pelo menos um pouco do que ele é.

Minha avó dona Si



Esta é minha querida avó, dona Sizaltina, mais popularmente conhecida como dona Si. Mãe de cinco filhos, avó de 16 netos e bisavó de sete bisnetos. Com meu avô Jose de Santana, mais conhecido como Zé Magro (falecido em 2010), ela se casou aos 20 anos e teve a felicidade de viver um matrimônio de 60 anos. No último dia 21 ela comemorou 82 anos de vida com muita saúde graças a Deus, não fosse a lamentável osteoporose no joelho direito, sua única patologia.

Avó é como segunda mãe. Lembro-me de quando ainda pequena costumava brincar na casa da vó com minhas primas. O quintal cheio de plantas, o pé de manga onde costumávamos subir e das aulas de ponto de cruz que tinha como mestra a mais exímia das bordadeiras que São Desidério poderia ter. Uma arte que foi passada para nós, suas netas. As primeiras aulas eram reservadas a pequenos pedaços de étamine que aos poucos era preenchido com desenhos que ganhavam formatos de laranjas, maças, losângulos. A vó nos cobrava que o avesso do bordado fosse limpo, só depois disso é que começávamos a fazê-los em guardanapos, panos de pratos e posteriormente aprendíamos a bordar nossos próprios nomes em toalhas de banho, fase que já assinalava progresso. Aquelas que se dedicaram mais alçaram bordados em almofadas, caminhos de mesa, panos de fogão, entre outros. Mas talvez o sonho das netas seria dominar bordados considerados maiores como as enormes toalhas de mesa, denominadas de banquete que só a vó fazia e que por vezes exigia meses de trabalho. Uma das características de seu bordado é que o fazia com amor e muita dedicação e por esse motivo ela costumava receber muitas encomendas da cidade e até mesmo de outros estados. O bordado sempre deu o tom da ornamentação na casa da vó, seja por sobre o fogão, a mesa da sala, da antiga prateleira da cozinha, no aparador do filtro, na velha máquina de costurar encostada na copa.

O vô e a vó
Ah! E como esquecer das lapinhas. Cresci a vendo montar o presépio na primeira sala. Dia 24 de dezembro era um movimento na casa da vó. É só fechar os olhos e ainda sinto o cheiro da cola que ela fazia com a tapioca utilizada para fixar o papel no antigo giral, posteriormente preenchido com as plantas, a areia, os santos e muita luz para enfeitar o presépio. Era feita toda uma preparação para a reza da lapinha e uma delas, a que eu mais gostava era do dia em que eram feitos os biscoitos também chamados de petas, pois na casa da vó havia um forno à lenha. Depois da aula íamos para a casa da vó ou passávamos por lá no turno oposto da escola para comer a peta quente molhada na mesma massa crua. Depois que as petas ficavam prontas era a vez da netaiada entrar em ação e ajudar a fazer o ginete, que para muitos trata-se de um biscoito doce que costuma não render muito depois de assado. Na casa da vó esse era o momento mais esperado, visto que nós, sentadas na disposição de uma roda, cada uma com sua devida fôrma e um bolo de massa em mãos, a medida que dávamos formato ao biscoito na bandeja sobre o colo e no ausência da vó essa era a oportunidade para saborear a deliciosa massa crua. E quando a vó retornava lá estávamos com as bochechas alteradas. E era nos repreendia sorrindo:

- Por isso que o ginete não rende aqui!. E riamos.

Cabeça branquinha, voz tranquila, corpo encurvado pelo tempo e pelo ofício do bordado, vó é dona de um dos sorrisos mais contagiantes. Na casa laranja, ao lado do Centro Cultural, na rua Dr. Valério de Brito a imagem de uma senhora sentada em sua cadeira de couro ao entardecer é convidativa para uma boa prosa que possa talvez lhe arrancar uma de suas altas gargalhadas.





Grandes amigas



Dona Fátima e Michelly na formatura em 2011
Amizades verdadeiras são cultivadas mesmo que a distância. Em 1998 conheci Michelly quando juntas coordenamos o grupo de coroinhas da Igreja Católica em São Desidério, em tempos em que o Pe. Eraldo, seu tio, era o pároco da cidade. Em 1999 estudamos juntas a 6ª série. No ano seguinte ela regressou a sua terra natal, Monteiro – PB. Nos correspondíamos por cartas nesse período. Cursamos a 8ª série em 2001, quando ela retornou a São Desidério com sua mãe, dona Fátima e Seu Pedro, o avô, falecido em 2006. Sempre tive um carinho muito grande por ela sua mãe, desde os tempos da casa paroquial, o primeiro local onde residiram em São Desidério.

A vida nos direcionou rumos diferentes, mas a amizade sempre foi a mesma. Em 2006, Michelly se mudou para Brasília onde graduou em Ciências da Computação em 2011. Há cerca de dois anos esteve morando em companhia de sua mãe. Era tão bom ir visitá-las e saber que sua mãe tinha um carinho por mim. Um cuidado de mãe dedicada que me fazia sentir como se eu estivesse em minha própria casa. Em algumas dessas visitas, atendendo a seu pedido fiz uma de minhas macarronadas, e ela degustou prazerosamente.

Turma de coroinhas em 1998 e o Pe. Eraldo
A voz delicada, o jeito simples de conversar, de aconselhar e a força de vontade em encarar sua vida. Mesmo diante de seus problemas de saúde, quando eu ia visita-la, nunca a presenciei reclamar. Isso marcou o nosso último encontro numa manhã tranquila de janeiro deste ano, na qual tivemos uma conversa agradável. Falamos de família, amizade, recordações, trabalho e futuro. Ela era muito especial. Seu semblante transparecia vida. Sua alegria e suas palavras me fortaleceram tanto naquele instante.

- “Não adianta preocupar tanto. Só viva porque a vida é tão boa. Se você sentir vontade de cantar. Cante. Louve a Deus com sua voz. Agradeça a ele por tudo. Pela saúde para viver que é o mais importante”.

Disse-me ainda que ela era muito grata a Deus pela vida que tinha, da filha maravilhosa e dedicada que está construindo o seu futuro. Depois disso nos abraçamos. Não sei por que essas foram as palavras que primeiro lembrei quando soube que ela havia partido, na noite do último 17 de agosto. Tenho certeza que embora não deixasse se abater pelo seu sofrimento, sua fé era tamanha, que Deus preparou-lhe um lugar especial. Descanse em paz amiga! Sempre lembrarei daquele sorriso na última vez que nos vimos e da força que me passou naquele momento. Saudades!

Por isso foi estranho voltar aquele apartamento sem sua presença física naquela manhã de domingo 19. Mas, pude reencontrar o Pe. Eraldo e conhecer dona Deza, amiga da família, a tia da Michelly Ana Paula e a prima Dilma, além de rever a companheira felina Mel. Melhor de tudo foi abraçar minha amiga Michelly. Era tudo o que podia fazer além de oferecer minha amizade sincera para o resto da vida.



sexta-feira, agosto 10, 2012

Sobre o livro 1808



Acabo de ler 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil.

A obra de Laurentino Gomes relata com afinco os bastidores e como de fato ocorreu a fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, e nem de longe lembra a versão resumida que aprendemos nas aulas de história do ensino regular.

Contada com riqueza de detalhes o autor revela segredos e fatos desconhecidos que marcaram um dos momentos mais importantes da trajetória do Brasil. Na oportunidade o escritor se vale do fundamento de outras bibliografias acerca de assuntos abordados em outras obras e contextualiza a realidade do mundo e do Brasil dessa época, a exemplo das guerras napoleônicas, revoluções republicanas e escravidão que embasaram a fuga da corte lusitana e consequentemente a instalação da corte lusitana no Brasil. Ao final faz uma pequena deixa para o leitor dos fatos que nortearam o desencadeamento da independência do Brasil em 1822, assunto de sua obra posterior, e minha próxima leitura.

Li e recomendo 1808.



Dica de Leitura: Amar, verbo intransitivo (Mário de Andrade)

  “As conveniências muitas vezes prolongam a infelicidade”. Em ‘Amar, verbo intransitivo’, embarcamos com Mário de Andrade, em uma obra cara...