segunda-feira, outubro 18, 2021

Aprender a falar com as plantas (Marta Orriols)

 


"As plantas novas que não nos conhecem nos observam do chão e se adaptam à alegria que flutuam no ambiente. Pensam que essa é a pauta e está bem que assim o façam", p. 237.

De autoria da escritora catalã Martha Orriols, 'Aprender a falar com as plantas', obra publicada em 2018, apresenta como destaque uma literatura voltada à perda e luto. "A morte é uma grande desenhista de momentos estranhos repletos de conversas em contratempo".  

A leitura foi sugerida pela Tag Livros Experiências Literárias, modalidade Curadoria, do mês de outubro e indicada pela curadora Socorro Acioli. "Me pergunto como posso guardar sua lembrança intacta de uma maneira justa", p. 25. 

A história tem por cenário Barcelona e destaca as vivências de Paula, uma médica neonatologista bem sucedida de 42 anos, narradora-personagem da obra. Paula vê seu mundo desabar após a morte do esposo Mauro em um acidente de trânsito, poucas horas após uma discussão entre eles, que marca o fim do casamento e de Mauro revelar que tinha uma amante mais jovem. "A alegria e o prazer parecem voltar mutilados, como soldados desta guerra minha".

As narrativas são carregadas de sentimento, ao tempo em que ela tenta se acostumar com a perda de Mauro e de que foi traída, informação que ninguém mais sabe. Paula vai revelando no decorrer de suas falas, seu sofrimento, as pistas da traição deixadas no celular dele e o contato que desenvolve com as plantas, último resquício das lembranças que seu marido deixou no apartamento, das quais agora precisa aprender a cuidar. Vale a pena conferir essa leitura!

"...mas me apresso a lembrar que esta varanda será um vestígio de sua vida, Mauro, e não um estatutário de sua morte. E então o faço, tomo ar como se minha vida dependesse disso e desejo para mim, desejo bem forte", p. 237.


Por Analítica

quarta-feira, outubro 13, 2021

Olhos D'água (Conceição Evaristo)



"Escrever é uma maneira de sangrar. Acrescento: e de muito sangrar, muito e muito...", p. 109. Concluindo a leitura de 'Olhos D'Água', primeiro contato do analítica com a obra da mineira Conceição Evaristo. Publicado em 2014, a obra de ficção da Literatura Brasileira, reúne 15 contos, são eles: 'Olhos D'Água', 'Ana Davenga', 'Duzu-Querença', 'Maria, Quantos filhos Natalina teve?', 'Beijo na face', 'Luamanda', 'O cooper de Cida', 'Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos', 'Di lixão', 'Lumbiá', 'Os amores de kimbá', 'Ei, Adoca', 'A gente combinamos de não morrer' e 'Ayoluwa, a alegria de nosso povo'.

Os contos tratam temas, a exemplo da pobreza, violência urbana, preconceito, morte, sobrevivência, tendo por foco mulheres negras. Apreciei a escrita da autora, traz um jeito simples e bem cativante, prende a atenção desde o início da leitura até o desfecho de cada uma das histórias apresentadas. Conceição utiliza uma linguagem comum, sem rodeios para falar das vivências do dia a dia. 

Em especial, destaco o conto que mais me cativou, o primeiro, 'Olhos 'D'Água', que recebe o mesmo título do livro. Nesse conto Conceição relata memórias afetivas de sua mãe e um questionamento permeia ao longo da narrativa: 'Que cor seriam os olhos de minha mãe?', e ao final quando obtém de fato essa resposta, traz um relato carregado de emoção. "Vi só lágrimas e lágrimas. Entretanto, ela sorria feliz. Mas eram tantas lágrimas, que eu me perguntei se minha mãe tinha olhos ou rios caudalosos sobre a face. E só então compreendi. Minha mãe trazia, serenamente em si, águas correntezas. Por isso, prantos e prantos a enfeitar o seu rosto. A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d'água. Água de mamãe Oxum! Rios calmos, mas profundos e enganosos para quem contempla a vida apenas pela superfície. Sim, águas de Mamãe Oxum!", p. 18 e 19.



Por Analítica

Dica de Leitura: Amar, verbo intransitivo (Mário de Andrade)

  “As conveniências muitas vezes prolongam a infelicidade”. Em ‘Amar, verbo intransitivo’, embarcamos com Mário de Andrade, em uma obra cara...