quarta-feira, setembro 13, 2017

Festejos religiosos em São Desidério

Corte do Imperador do Divino em 1997

Em São Desidério, o mês de setembro é dedicado aos festejos religiosos de Nossa Senhora Aparecida, 19, e do Divino Espírito Santo, 20, devoções centenárias comemoradas no município fora das datas oficiais - 12 de outubro (Nossa Senhora) e 40 dias após a Páscoa (Divino Espírito Santo). Fato que se justifica pelas denominadas ‘desobrigas’, comuns em um período em que havia um mesmo padre disponível para cobrir uma grande região, e por isso sua visita era realizada uma única vez em cada município. Por este motivo, essas datas se tornavam oficiais, mesmo que fora de época, para celebrar os festejos religiosos.

Reza a lenda que Pe. Armindo, um dos primeiros padres foi durante muito tempo o pároco responsável por atender a região onde hoje se concentra o oeste da Bahia. Ele costumava percorrer os vilarejos montado em uma mula para celebrar as missas.  Ainda na época que São Desidério era um vilarejo, recebia o sacerdote que realizava as missas da Padroeira no dia 19 de setembro, e no dia seguinte, do Divino Espírito Santo. Em seguida eram realizados batizados, casamentos, 1ª Eucaristia, Crisma para aproveitar a oportunidade. Como este fato só acontecia uma vez por ano, a população aproveitava o momento para comemorar com festas que animavam os fiéis.

Com o tempo, a tradição dos festejos religiosos entrou para o calendário cultural de São Desidério e ficou conhecida também como “Os festejos de setembro”. Anos depois, atrelado aos festejos religiosos passou-se a realizar também festas com participação de artistas musicais que por um bom tempo foram realizadas na Praça Abelardo Alencar, onde localizava o antigo Mercado Municipal, e a partir de 2003 a festa foi transferida para o Coliseu da Paz, saída para Barreiras.

Minha vó, dona Si, relata um episódio a marcou certa vez em um dos casamentos que presenciou nesse período. Segundo ela, o padre Armindo celebrava mais de 10 casamentos na ocasião e quando perguntou a um dos casais se aceitavam um ao outro como marido e mulher, a moça respondeu que não. Muito espantados ficaram os fiéis, principalmente a família da noiva. Mas para a surpresa de quem assistia a celebração, na mesma hora uma mulher que estava presente se prontificou a casar com o noivo, e o casamento enfim se consumou.
Chegada de comitivas

Comitivas - Muitas pessoas naturais de São Desidério e que atualmente residem em outros estados costumam retornar ao município nesse período que há muitos anos ficou conhecido como as tradicionais “festas de setembro”. Até a década de 1990 eram organizadas comitivas que traziam muitas pessoas, vindas principalmente de Goiânia e de Brasília, para participar das festas e visitar os parentes. Elas costumavam vir em ônibus fretado que era aguardado por muita gente, euforia e foguetes em frente à Igreja Matriz.

Festa da Padroeira – Os festejos de Nossa Senhora Aparecida começam no dia 10 de setembro com o novenário em honra a Padroeira, realizado na Igreja Matriz. Durante todas as noites, pastorais, grupos e movimentos organizam quermesse com venda de comidas típicas na Praça da Igreja. Uma alvorada festiva na madrugada de 19 dá início às comemorações, marcada por um cortejo que sai da Igreja Matriz pelas principais ruas da cidade ao som de marchinhas conduzidas pelo maestro Reginaldo, e culmina com um café da manhã servido com muita farofa. A celebração da missa solene às 18 horas encerra as festividades da Padroeira com o sorteio dos novos juízes, pessoas encarregadas de organizar a festa do ano seguinte.

Festa do Divino - Na manhã de 20 de setembro é a vez dos devotos do Divino Espírito Santo participarem da tradicional missa solene, que todos os anos registra grande participação de moradores da sede e zona rural do município, além de visitantes. A missa termina com o sorteio do novo Imperador e corte. Após a transmissão da coroa todos se dirigem a casa do Imperador da festa onde é servido o popular almoço animado com muita música.  Uma das festas mais populares, a Festa do Divino tem seus preparativos durante todo o ano, quando a família do Imperador juntamente com os foliões levam a bandeira, um dos símbolos da tradição, por todas as localidades do município, sendo o último local a sede, com intenção de arrecadar donativos para a festa. O festejo é coordenado pelo Imperador e sua corte formada por: Alferes da Bandeira (quem conduz a bandeira), Caudatários (responsáveis pelo isolamento da corte durante o circuito), Procurador da Bandeira (encarregado por buscar interessados e adicionar seus nomes para participarem do sorteio da corte do Imperador do ano seguinte) e Capitão do Mastro (aquele que organizará juntamente com a comissão a Pegada dos Mastros onde serão erguidas as bandeiras da Padroeira e do Divino, no primeiro sábado de setembro).

Texto: Ana Lúcia Souza

quinta-feira, setembro 07, 2017

Aquela foto de 7 de Setembro que você não esquece (Reprodução)






A primeira foto foi produzida em 1991, um ano antes de participar do meu primeiro desfile como estudante. O local era a antiga praça onde se localizava a sede do Banco do Brasil. Eu com 4 anos vestida com minha jardineirinha que tanto gostava, e minha irmã Luciane que desfilou na ala das baianas.

Na segunda foto é a reconstituição da original produzida a poucas horas. Uma tentativa de reprodução da primeira tirada há 26 anos.Eu de baiana e minha sobrinha e afilhada Maria Clara. 

Data da 1ª Foto: 07/09/1991- por Zezinho da Lela
Data da reprodução da foto: 07/09/2017 - por Ângela Patrícia
Ideia e direção da reprodução da fotografia: Ana Lúcia Souza
Criança: Maria Clara
Figurantes: Anna Sizaltina, Waléria Tatiara e Túlio Fleury
Apoio: Elitânia Lima
Local: Praça Abelardo Alencar 

Outras lembranças de 7 de Setembro - Outro dia comentava com muita saudade com alguns amigos sobre os Desfiles Cívicos. Da ansiedade e expectativa que sentíamos quando se aproximava o 7 de Setembro. Os ensaios nas ruas, de experimentar as roupas nas costureiras que costumavam não dormir às vésperas do desfile para finalizar a tempo as indumentárias dos alunos e de todos os preparativos gerados em torno da data .

Ao amanhecer do dia 7, costumávamos despertar ao som dos hinos cívicos entoados nas caixas de som fixados nos postes das principais ruas da cidade e imediações de onde o palanque era montado. Era como se o som enaltecesse o sentimento de patriotismo e incentivasse a levantar da cama e participar do Desfile Cívico. Carros alegóricos se posicionavam em frente às escolas, a avenida movimentada de alunos, dos pais acompanhando os filhos com as vasilhas de água.

Embora já tenha desfilado de uniforme, e gostado, sempre achava interessante participar de alegorias para ter a desculpa de usar outras roupas que não fosse farda. No primeiro desfile cívico cursava o Pré Escolar na Escola O Pequeno Príncipe, em 1992, em cima de um carro alegórico, todo enfeitado, que levava os paquitos e paquitas da Xuxa. Lembro até hoje da roupa branca, uma camisa com saia de pregas, o cheiro do sapato novo comprado para aquela ocasião e o chapéu. Outro ano, desfilei no pelotão da Primavera com roupas florais e sexta de flores. Mas as vezes que mais se repetiam são as que me vesti com roupas brancas ou como porta-bandeira.

Também lembro de algumas recordações engraçadas sobre desfile. Muitas mães para evitar gastos costumavam tingir as calças dos filhos em casa. Parece que muitas delas sempre entravam em acordo com relação a isso.

- Você vai comprar calça nova para sua filha desfilar fulana? Argumentava uma.

- Não mulher é só uma horinha ali. Porque você não faz como eu e tinge a calça dela com anil? Replicava a outra.

Pronto estava feito! Certa vez isso aconteceu comigo. Só lembro do reflexo do sol no jeans que se tornava lilás e isso chamava a atenção. Alguns colegas fazia graça disso. Fazer fotografia era um pouco difícil, poucas pessoas dispunham de máquina fotográfica em casa e celular então. O desfile era uma ocasião bem oportuna e ao final, todos costumavam ir para as praças e jardins onde os fotógrafos já ficavam de prontidão esperando. Em uma das vezes que desfilei vestida com roupas brancas coincidiu que o asfalto da avenida JK havia sido feito recentemente. Eu estudava a 5ª série. A cada passo que marchávamos, o solado do sapato branco grudava no asfalto, e ficou difícil de acompanhar o compasso.

No 2º ano do Ensino Médio, em 2003, desfilei como porta-bandeira do Colégio Médici. Para mim, essa missão só seria completa se eu conseguisse levar a bandeira do Brasil. No momento em que a fila era organizada em frente à escola, percebi que outra garota também estava com o mesmo objetivo que o meu. Sai imediatamente da fila e entrei na escola onde encontrei a diretora e perguntei-a onde estava a bandeira do Brasil, pois eu queria levar. Ela permitiu e apontou para onde a bandeira se encontrava, próximo à porta da sala da direção. Pequei o mastro com a bandeira e neste instante surgiu na porta a outra garota concorrente. Não tive coragem de olhar, pois saí imediatamente agarrada à bandeira, mas percebi que ela ficou chateada por eu ter conseguido. O engraçado foi contar essa história um ano depois, no 3º ano e descobrir que a colega para quem eu contava era justamente a garota concorrente desse episódio.


segunda-feira, setembro 04, 2017

Mulheres marcam presença nos 101 anos de tradição da Pegada do Mastro em São Desidério





Por muitos anos, acompanhar a tradição da Pegada do Mastro para mim, se resumia apenas a chegada dos mastros à sede do município e seu trajeto até a Igreja Matriz. A Pegada do Mastro é uma manifestação cultural e religiosa realizada no primeiro sábado de setembro em São Desidério, que sempre foi marcada pela participação masculina. Este ano, juntamente com alguns colegas participei da tradição, que pela primeira vez, em 101 anos de história, foi marcada pela participação expressiva de mulheres.


A Pegada do Mastro, ocorrida no último sábado 02, antecede os festejos religiosos de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do município, celebrada no dia 19, e do Divino Espírito Santo, dia 20. Com o passar do tempo, a tradição recebeu apoio da Prefeitura Municipal e entrou para o calendário de eventos culturais do município.



História e tradição – No primeiro sábado de agosto, o Capitão do Mastro juntamente com o Imperador e demais organizadores da Festa do Divino e da Padroeira, se dirigem a um local conhecido como Cabeceira da Mamona, a cerca de 06 quilômetros da sede do município, onde são retiradas duas árvores com aproximadamente 15 metros de comprimento cada, que ficam reservadas neste ambiente. Um mês depois, no primeiro sábado de setembro, dia em que ocorre a Pegada do Mastro, essas árvores são trazidas pelos participantes até a cidade, onde são hasteadas com as bandeiras da Padroeira e do Divino, durante os festejos religiosos em frente à Igreja Matriz.



Farofa, cachaça e rodas de samba - Na Cabeceira da Mamona, as farofas são servidas pela organização juntamente com a cachaça que geralmente ficam enterradas de um ano para outro para serem melhor 'apuradas'. Os participantes se põem a dançar em rodas de samba ao som de tambores e instrumentos rústicos que dão o tom do evento, até a hora do retorno à cidade.






Chegada a cidade - No fim da tarde, foguetes anunciam a chegada dos mastros à cidade que é aguardado por muitas pessoas. Até chegar a Igreja Matriz, onde os mastros permanecem até serem hasteados, o cortejo passa em frente a casa de antigos capitães do mastro já falecidos, a exemplo de João Montalvão, Nelson, João Borola, Anacleto e Dazilão, além da casa do Imperador, onde são formados mais rodas de samba.



 
Por Ana Lúcia Souza
Fotos: Ana Lúcia Souza / Florentino Filho / Vinícius Rocha


Dica de Leitura: Amar, verbo intransitivo (Mário de Andrade)

  “As conveniências muitas vezes prolongam a infelicidade”. Em ‘Amar, verbo intransitivo’, embarcamos com Mário de Andrade, em uma obra cara...