segunda-feira, janeiro 06, 2020

Tradição de Santo Reis no município de São Desidério

Família de reiseiros do município de São Desidério
O dia 06 de janeiro é data em que se comemora o dia de Santo Reis. A festividade tem origem no calendário da Igreja católica, quando rememora o dia em que os três Reis Magos - Belchior, Gaspar e Baltazar - visitaram o recém-nascido menino Jesus, para levar os presentes ouro, incenso e mirra. Em São Desidério, devotos celebram a data há mais de 40 anos com rezas em louvor aos santos, e comemoram com fartos almoços servidos aos participantes. Rodas de samba finalizam a festividade. Acompanhe os depoimentos de alguns devotos dessa que é uma das mais antigas e representativas tradições na sede e zona rural do município.


Sede - Leonízio de Jesus (Di do samba) segue a tradição desde os 12 anos. Ele afirma que aprendeu os cantos com os mais velhos. Há aproximadamente 40 anos, com a ajuda dos foliões ele ajuda a manter a tradição na sede do município. Movido por uma promessa, ele está à frente da organização do grupo que tem indumentária própria e já se apresentaram no município de Barreiras e também para o programa Na carona, da Rede Bahia. “Eu costumava acompanhar as folias de seu Julio Redondo, velho Biú, Geminiano e Chico do Prachedes. A cada ano fazemos essa festa com a ajuda do povo. A gente começa na noite de 24 para 25 e recebo as pessoas em minha casa para o encerramento dia 6 de janeiro”, comenta Di.



Fazenda Carvalho – Lá a tradição é mantida por Necina Maria dos Santos, que acompanhava a avó materna que tirava a folia para Santo Reis no povoado de Tiririca. Ela seguia também o grupo de reis do senhor chamado Júlio (popular Júlio Redondo), que era muito conhecido em São Desidério pelos festejos de Santo Reis. Quando este morreu, lhe passou os instrumentos para que ela e outros foliões dessem continuidade à tradição. Ao som do triângulo, gazarra, bumbo, tambor e da gaita, sempre acompanham as rezadeiras, que participam juntamente com o grupo de São Matias. “Nasci e me criei no reisado. Os cantos que aprendia durante a folia, treinava em casa. A esmola é pouca, mas desde cedo eu vou ajuntando dinheiro, criando porcos, galinhas para fazer a reza e a festa para os foliões dia 06 de janeiro. Muitas pessoas vem participar e é sempre muito animado. Conto com a ajuda de meus filhos e de muitas pessoas. A casa fica cheia e eu muito alegre”, esclarece Necina.


                             


Distrito de Sítio Grande - João Pereira Santos é o líder do grupo de reisado. Segundo ele, os precursores da tradição em Sítio Grande foram Merindo e Nezim. Os participantes do grupo tocam gaitas, tambor, bumbo, rec, viola, além dos cantores. João aprendeu desde cedo a acompanhar os grupos de reisado. “Eu nasci vendo isso, vi em livros e cresci acompanhando. Por onde andamos se fosse agendar não dava. É sempre animado. As vozes tem que acompanhar os instrumentos. A avaliação é positiva. Se acabar isso aqui para mim é mesmo que uma doença, justamente”, relembra o folião.

Derocal - Antônio Batista da Guarda começou a acompanhar a tradição aos 18 anos. O grupo costuma participar na maioria das vezes juntamente com o grupo de Penedo e de outras localidades próximas. “A gente começa a cantar da porta de casa da pessoa e depois entra para tirar a folia. Os cantos mudam. Cada região canta de um jeito diferente”, declarou Antônio.

Penedo - Antônio Vieira Xavier há mais de 50 anos herdou do pai, Geminiano Antônio Xavier, bastante conhecido na sede de São Desidério por ser um dos precursores da tradição de Santo Reis no município.



















Distrito de Roda Velha I - A tradição teve início com o pai do sogro de Nelson Ned Bento da Silva, Aldino Gonçalves da Silva. Nelson sempre conta com boa participação do público. No grupo, cada integrante um usa um lenço durante as apresentações, é o adereço que identifica o grupo. Além da folia de Reis, participam também dos festejos do Divino Espírito Santo. “Infelizmente por parte dos foliões, a tradição vem a cada ano diminuindo. Os mais novos não têm muito interesse em dar continuidade a esse costume”, comentou.

Sítio Novo - Pedro da Conceição aprendeu a seguir a tradição com os familiares e pessoas mais velhas, desde 15 anos. Há mais de 40 anos está a frente da organização do grupo que se apresenta somente no povoado de Sítio Novo. “Quando a folia é pequena a gente faz tudo no dia 6. Tira a folia de dia e a noite faz a reza e depois a festa”, diz Pedro.


                            
AS LAPINHAS – Também no dia 06 de janeiro é o ponto alto da tradição das lapinhas no município. Lapinhas ou presépios natalinos são confeccionados nas casas por pessoas que cultivam a tradição de relembrar e reproduzir o cenário do nascimento de Jesus com cada um dos personagens: São José, Maria, o menino Jesus, os três reis magos, bois, ovelhas, pastores, galos, além de plantas e outros ornamentos que ficam a critério do devoto. A primeira reza na lapinha costuma ser na noite de 24 de dezembro e no dia 06, para finalizar as comemorações, a reza relembra a visita dos três reis magos ao recém-nascido. 

                                        

No município de São Desidério a tradição das lapinhas é cultivada há mais de 70 anos. “Desde pequena via a lapinha que minha madrinha fazia. Me lembro feito hoje. Era uma armação no canto da parede de cima até embaixo. Cheguei em minha casa quis fazer igual, coloquei um caixote e umas bonecas, mas só para brincar. Quando casei em 1950 vim morar aqui na cidade. Então fiz uma promessa para o menino Jesus e fui atendida. Comecei a fazer a lapinha e não parei mais”, revela Sizaltina Dourado de Santana (89).

                              

Assim como Sizaltina, a moradora Maria de Oliveira Dias, também segue essa tradição. “Eu ajudava minha mãe a fazer a lapinha e quando me casei, eram tempos muito difíceis. Me apeguei com o menino Jesus para que não deixasse faltar o sustento para minha família. Então passei a fazer a lapinha em minha casa e nunca fiquei um ano sem cumprir essa promessa. Gosto de seguir pois é uma tradição muito bonita e quero continuar”, complementa a devota.




Por Analítica
Fotos: Blog Analítica / Arquivo Municipal



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Dica de Leitura: Amar, verbo intransitivo (Mário de Andrade)

  “As conveniências muitas vezes prolongam a infelicidade”. Em ‘Amar, verbo intransitivo’, embarcamos com Mário de Andrade, em uma obra cara...