quinta-feira, janeiro 30, 2020

Cem Anos de Solidão (Gabriel Garcia Márquez)



Olá, venho por meio deste quadro 'Leitura Partilhada', relatar um pouco sobre uma obra que li recentemente. Cem anos de solidão’ é a minha primeira leitura do ano e também o meu primeiro contato com a escrita de Gabo, como o autor é carinhosamente conhecido. Apesar de estar na minha lista de livros há um bom tempo, somente em setembro do ano passado adquiri a obra para minha coleção e por ter outros livros para ler, só pude agendar leitura para esse ano e agora deixo algumas considerações pessoais que tive do livro.

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que o pai o levou para conhecer o gelo". De autoria do colombiano Gabriel Garcia Márquez, falecido em 2014, a obra publicada em 1967, consagrou o autor ao prêmio Nobel  em 1982. 

Logo no início, é apresentada a árvore genealógica da família Buendía. Esse artifício norteia o leitor, já que o livro conta a história de sete gerações dos Buendía, uma família tradicional que tem como precursores, os primos José Arcádio e Úrsula Iguarán. Ao longo das gerações, a repetição dos nomes dos membros da família é uma constante.




O enredo se passa num lugar chamado Macondo, vilarejo fundado pelos Buendía, apresentando desde o surgimento desse lugar, sua ascensão até a queda. "Macondo era então uma aldeia de vinte casas de pau a pique e telhados de sapé construídas na beira de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos”.

A casa dos Buendía é a mais famosa do lugar e que recebe os visitantes. "Não haverá casa melhor, nem mais aberta a todo mundo do que esta casa de loucos", página 197. Um dos desses visitantes é Melquíades, o chefe dos ciganos, um homem considerado muito sábio que passa a ter contato com a família dos Buendía e ganha até um quarto só para ele na casa. É nesse quarto, uma espécie de biblioteca, que ele vai passar a maior parte do tempo se rendendo aos seus conhecimentos em alquimia ou escrevendo pergaminhos. "Era a história da família escrita por Melquíades nos seus detalhes mais triviais, com cem anos de antecipação", página 444.

As mulheres da família são marcadas por personalidade forte e guerreira, como se pode destacar a matriarca Úrsula, a personagem que mais acompanha essa trajetória histórica, ela morre com mais de 100 anos e vê o desenvolvimento do lugarejo, o nascimento e morte de muitos familiares. "São todos iguais", se lamentava Úrsula. "No começo são muito bem criados, obedientes e responsáveis e parecem incapazes de matar uma mosca, mas assim que aparece a barba se lançam a perdição", página 168.

A solidão faz parte desse cotidiano, onde os personagens sofrem de solidão por alguma forma, como se observa nesse trecho: "O coronel Aureliano Buendía raspou durante muitas horas tratando de rompê-las, a dura casca de sua solidão", página 186. A insônia também é outra característica assinalada em vários momentos da narração, e permite que os personagens oscilem entre o que é real ou ilusão. "Muitas vezes foram despertados pelo flamar dos mortos. (...) e Aureliano Segundo agonizando de solidão no aturdimento das farras, e então aprenderam que as obsessões dominantes prevalecem contra a morte e tornaram a ser felizes com a certeza de que eles continuariam se amando com suas naturezas de assombrações...", página 440.

Histórias de guerra, de perdas, dramas acompanham o enredo. "- Que o coronel Aureliano Buendía fez 32 guerras civis e perdeu todas - respondeu Aureliano". Em alguns trechos da história podem ser contextualizados com passagens bíblicas, a exemplo da própria fundação do povoado que pode ser comparado com o 'livro de Gênesis' e outro em que o autor contextualiza com o 'Massacre das Bananeiras' episódio ocorrido na Colômbia em 1928. "Que o exército encurralou e metralhou três mil trabalhadores, e que levaram os cadáveres num trem de duzentos vagões para serem jogados no mar", página 438.

Realismo Mágico - Foi por meio desse livro que fui conhecer essa corrente artística tão presente na narrativa de Gabo. O Realismo Mágico que surgiu em meados do século XX na América Latina,  tem como característica mostrar o que não é real tornando-o comum. Pode-se destacar que o autor usou esse estilo casando-o até mesmo com uma pitada de bom humor, para relatar algumas histórias absurdas destacadas, a exemplo dos filhos que nasciam com rabo de porco, da mulher que ascendeu aos céus, de pessoas que comiam terra. 

Outra característica dessa corrente bastante presente na narrativa são técnicas inovadoras, como o tempo que a narração de Gabo apresenta na obra, que parece que não passa, como se desse voltas. Não tem uma sequência linear. Gabo brinca com o tempo, e o controla no desencadear dos fatos. "...e começou decifrar o instante que estava vivendo, decifrando conforme vivia esse instante, profetizando a si mesmo no ato de decifrar a última página dos pergaminhos, como se estivesse se vendo num espelho falado".

Essa é uma dessas histórias em que a compreensão de fato chega somente ao final da obra, quando o autor revela o sentido da história, quando de fato, o último membro dos Buendía decifra os pergaminhos e tem a verdadeira história da família em mãos, que é o resultado final, o livro. "Porém antes de chegar ao verso final já havia compreendido que não sairia jamais daquele quarto pois estava previsto que a cidade dos espelhos, ou das miragens, seria arrasada pelo vento e desterrada da memória dos homens no instante em que Aureliano Babilônia acabasse de decifrar os pergaminhos e que tudo que estava escrito neles era irrepetível desde sempre e para sempre, porque as estirpes condenadas a 100 anos de solidão não tinham uma segunda chance sobre a terra", página 446.

No início, o prefácio ressalta que Gabo era um contador de histórias. Destaca que ele repetia as histórias que ouvia de seus avós, tios e outros ancestrais e durante a leitura comprovei que a narrativa, ainda que rebuscada em alguns momentos e expressões, predomina-se uma escrita simples pelo próprio recontar de histórias. Ele preenche o enredo que se configura em um misto de várias histórias que vão seguir amarradas para prender a atenção do leitor até o desfecho, utiliza vários artifícios, dramas, humor, superstições entre outros. 

Gostei da leitura e considero um livro interessante, que algum dia as pessoas deveriam ler. Não poderia ter sido a melhor escolha para o meu primeiro contato com o autor e não sei como posterguei tanto tempo essa leitura. Li e recomendo a leitura!

Palavras-chave: Macondo – família – pergaminhos – escritos – história – 100 anos – insônia - solidão - ascensão - queda;

Título: Cem Anos de Solidão
Autor: Gabriel Garcia Márquez
Páginas: 446
Editora: Record
Gênero: Romance Colombiano
Tradução: Eric Nepomuceno

Texto e foto: Analítica

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