quarta-feira, outubro 13, 2021

Olhos D'água (Conceição Evaristo)



"Escrever é uma maneira de sangrar. Acrescento: e de muito sangrar, muito e muito...", p. 109. Concluindo a leitura de 'Olhos D'Água', primeiro contato do analítica com a obra da mineira Conceição Evaristo. Publicado em 2014, a obra de ficção da Literatura Brasileira, reúne 15 contos, são eles: 'Olhos D'Água', 'Ana Davenga', 'Duzu-Querença', 'Maria, Quantos filhos Natalina teve?', 'Beijo na face', 'Luamanda', 'O cooper de Cida', 'Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos', 'Di lixão', 'Lumbiá', 'Os amores de kimbá', 'Ei, Adoca', 'A gente combinamos de não morrer' e 'Ayoluwa, a alegria de nosso povo'.

Os contos tratam temas, a exemplo da pobreza, violência urbana, preconceito, morte, sobrevivência, tendo por foco mulheres negras. Apreciei a escrita da autora, traz um jeito simples e bem cativante, prende a atenção desde o início da leitura até o desfecho de cada uma das histórias apresentadas. Conceição utiliza uma linguagem comum, sem rodeios para falar das vivências do dia a dia. 

Em especial, destaco o conto que mais me cativou, o primeiro, 'Olhos 'D'Água', que recebe o mesmo título do livro. Nesse conto Conceição relata memórias afetivas de sua mãe e um questionamento permeia ao longo da narrativa: 'Que cor seriam os olhos de minha mãe?', e ao final quando obtém de fato essa resposta, traz um relato carregado de emoção. "Vi só lágrimas e lágrimas. Entretanto, ela sorria feliz. Mas eram tantas lágrimas, que eu me perguntei se minha mãe tinha olhos ou rios caudalosos sobre a face. E só então compreendi. Minha mãe trazia, serenamente em si, águas correntezas. Por isso, prantos e prantos a enfeitar o seu rosto. A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d'água. Água de mamãe Oxum! Rios calmos, mas profundos e enganosos para quem contempla a vida apenas pela superfície. Sim, águas de Mamãe Oxum!", p. 18 e 19.



Por Analítica

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