sexta-feira, dezembro 21, 2012

Lapinhas

Lapinha da Vó

Uma das melhores recordações que tenho do Natal é de ver minha avó dona Si montar a lapinha no dia 24 de dezembro. Uma tradição que ela preserva há mais de 50 anos como promessa. Segundo a vó muitas moças de São Desidério costumavam ir para as grutas, próximas à cidade, cerca de duas semanas antes do Natal para buscar pedras chamadas de lapas, utilizadas para a confecção das lapinhas. 

Desde quando éramos pequenas, eu e minhas primas costumávamos observar nossas mães ajudarem a matriarca da família. Nossa contribuição nessa época se resumia em carregar as plantas e enfeitá-las com as bolas de Natal. Lembro também da cola de tapioca que minha avó costumava fazer para colar o papel, seja forrando as latas das plantas ou um velho caixote utilizado para colocar os santos. Outra lembrança era o licor de jenipapo preparado para servir depois da reza, nos dias 24, após a missa do galo e dia 06 de janeiro, dia de Santo Reis. A gente sempre tomava escondido da vó quando íamos rezar à noite na lapinha no intervalo entre 24 e 06.

Com o tempo assumimos de vez a função de montar a lapinha para ajudar a vó. Das primeiras vezes ela ficou nervosa porque ainda não tínhamos adquirido os trejeitos do tal ofício e assim ela questionava: 

- Ô menina cadê a boca da lapinha. Vocês não sabem fazer lapinha não. Deixa que eu faço, eu só vou colocar o santo.
A ‘boca da lapinha’ que ela se referia se trata de um formato triangular, seja por meio de plantas ou do próprio papel que ao final se configura em uma gruta deixando transparecer uma entrada com destaque para onde se apresentam os santos. 

Nos anos seguintes ela até ficou mais calma e deixou que tomássemos conta de vez de tal tarefa, mas sempre dando seus pitacos. Na verdade ela sempre diz que todo ano só pretende colocar o santo, e quando tudo termina, com a gruta pronta e enfeitada, ela acaba aprovando. Um opinião daqui, outro dali. Nesse movimento descobri que até mesmo meu pai Angenor entende um pouco da atividade de tanto ajudar uma senhora da cidade, que já faleceu, a montar a lapinha. 

Presépio da minha casa
Hoje por conta de outras atividades do fim de ano, antecedemos o dia da montagem. O costume passou a ser valorizado no município por meio do Concurso de Lapinhas, realizado  desde 2009, ano que a lapinha de minha avó foi premiada em segundo lugar. Em 2010 ela conseguiu o primeiro lugar. Este ano também me empolguei e fiz um pequeno presépio lá em casa.

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