terça-feira, setembro 22, 2020

O menino do pijama listrado (John Boyne e Oliver Jeffers)



"Há centenas de crianças aqui", disse Bruno, sem pensar realmente nas palavras antes de dizê-las. "Só que elas ficam do outro lao da cerca". (...) "Eu as vejo da janela do meu quarto", disse afinal. "estão muito longe, é claro, mas parecem centenas. Todas vestindo os mesmos pijamas listrados", página 274.

Infância, inocência, amizade, curiosidade, cumplicidade, descobertas. Essas são apenas algumas características que marcam a história de Bruno e Shmuel.  Dois meninos da mesma idade separados por realidades diferentes. "Quero saber daquelas pessoas que eu vejo da minha janela. As que moram nas cabanas, lá longe. Estão todas com as mesmas roupas". "Ah, aquelas pessoas", disse o pai, acenando com a cabeça e sorrindo levemente. "Aquelas pessoas...bem, na verdade elas não são pessoas, Bruno", página 90.

Agora depois de ter concluído a leitura, me questiono como pude ter deixado esse livro há tanto tempo na minha lista de espera. Algum tempo já tinha ouvido falar da obra e resolvi adquirir para meu acervo pessoal. "Quando eu era criança", disse Bruno para si mesmo, "costumava gostar de explorar. E isso ainda em Berlim, onde eu conhecia todos os lugares e sabia encontrar o que quisesse, mesmo vendado. Nunca explorei este lugar, talvez seja hora de começar", página 149.

Uma narrativa comovente, emocionante e mostra o quanto podemos aprender a partir da ingenuidade de duas crianças. "O garoto era menor do que Bruno e estava sentado no chão com uma expressão de desamparo. Ele vestia o mesmo pijama listrado que todas as outras pessoas daquele lado da cerca, e um boné listrado de pano. Não tinha sapatos ou meias, e os pés estavam um pouco sujos. Usava uma braçadeira com uma estrela desenhada. Quando Bruno se aproximou do menino pela primeira vez, ele estava sentado no chão de pernas cruzadas, olhando para a poeira debaixo de si. (...) Bruno teve a certeza de jamais ter visto um menino tão triste e tão magro em toda a sua vida, mas decidiu que seria melhor conversar com ele", páginas 162 e 163.

A partir do momento em que Bruno, o garoto alemão muda-se com sua família da casa em Berlim para uma casa isolada no campo, vê sua rotina mudar por conta da promoção de trabalho de seu pai. "Na verdade, para onde quer que ele olhasse, só via dois tipos de gente: se não eram os soldados felizes, sorridentes e gritalhões nos seus uniformes, então eram as pessoas infelizes e choronas de pijama listrado, a maioria das quais parecia estar olhando para o nada, como se estivessem de fato adormecidas", página 300.

Sem a presença dos antigos amigos, agora ele precisa de alguém para brincar. Pela janela do quarto da nova casa, ele vê ao longe algo que parece ser uma fazenda e pessoas que vestem pijama. Sua curiosidade o instiga a aproximar de forma escondida desse local. É quando conhece, do outro lado da cerca o garoto judeu, Shmuel. O mais incrível é a primeira percepção que Bruno tem em achar que se estivesse do outro lado da cerca, como Shmuel, ele teria mais amigos para brincar. 

"É tão injusto", disse Bruno. "Não entendo por que tenho que ficar encalhado do lado de cá da cerca, onde não há ninguém pra conversar nem para brincar, e você fica com dúzias de amigos e provavelmente brinca durante horas e horas todo o dia. Terei que conversar com meu pai a respeito disso", páginas 168 e 169.  

Nem mesmo a cerca é empecilho para uma grande e verdadeira amizade. São nesses encontros que eles brincam, riem, conversam e fazem planos de um dia estarem juntos em um mesmo lado. "Ele olhou para baixo e fez algo bastante incomum para a sua personalidade: tomou a pequena mão de Shmuel e apertou-a com força entre as suas. 'Você é meu melhor amigo, Shmuel', disse ele. 'Meu melhor amigo para a vida toda", página 310.

Em um desses planos que tentam realizar, ingenuamente motivados pela vontade de se ajudarem e de finalmente estarem próximos um do outro, a história de amizade entre os dois culmina em um final trágico e emocionante. "O soldado deixou tudo lá, intocado e foi buscar o comandante, que examinou a área e olhou para a esquerda e para a direita assim como Bruno fizera, sem ser capaz de compreender o que acontecera com o filho. Era como se ele tivesse simplesmente desaparecido da face da terra e largado as roupas para trás", página 311.

Embora sem final feliz, a narrativa consegue prender o leitor aos detalhes do enredo e o livro é uma ótima sugestão de leitura. Ao longo da história por vezes consegui imaginar o ambiente do campo de concentração, a voz dos meninos e me comover com tamanha inocência e ingenuidade dos dois garotos em meio a tanta maldade e tudo o mais que se possa imaginar de cruel numa história que se passa na época marcada pelos abusos do Nazismo.

Por Analítica 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Dica de Leitura: Amar, verbo intransitivo (Mário de Andrade)

  “As conveniências muitas vezes prolongam a infelicidade”. Em ‘Amar, verbo intransitivo’, embarcamos com Mário de Andrade, em uma obra cara...