terça-feira, setembro 18, 2012

De festejos religiosos a Festa da Paz

Festa da Padroeira em 2010
Em São Desidério, o mês de setembro é dedicado aos festejos religiosos de Nossa Senhora Aparecida, 19, e do Divino Espírito Santo, 20, devoções cultivadas há mais de meio século e comemoradas fora das datas oficiais - 12 de outubro (Nossa Senhora) e 40 dias após a Páscoa (Divino Espírito Santo). Isso justifica as denominadas ‘desobrigas’ que se configuram em função da inexistência de padres nesse período, uma vez que somente um padre tinha que cobrir uma vasta área; celebrando os dias santos e festas numa única data.
Como contam o mais antigos o Pe. Armindo costumava percorrer os vilarejos para celebrar as missas montado em uma mula – o que justifica a máxima por vezes comentada ‘fulano caminha mais que a mula de Pe. Armindo’. Ainda na época que São Desidério era um vilarejo, recebia o sacerdote que realizava as missas da Padroeira e do Divino, celebradas em latim e virado para o altar. Em seguida eram realizados batizados, casamentos, 1ª Eucaristia, Crisma. Como este fato só acontecia uma vez por ano, a população aproveitava o momento para comemorar com festas, sanfonas, triângulos e zabumbas que animavam os fiéis.

Procissão em honra a Nossa Senhora Aparecida
Minha vó, dona Si, lembra que certa vez um episódio marcou um dos casamentos que ela presenciou nesse período. O padre Armindo celebrava mais de 10 casamentos de uma só vez e quando perguntou a um dos casais se aceitavam um ao outro como marido e mulher, a moça respondeu que não. A expressão foi de espanto para os fiéis, principalmente para a família da noiva. Mas para aumentar a surpresa na igreja, na mesma hora uma outra mulher que assistia a cerimônia se prontificou a casar com o noivo, e o casamento enfim se consumou.
Com o tempo e a emancipação de São Desidério, a tradição se tornou parte do calendário da cidade sempre comemorado nessas datas, ganhando adeptos e apoio. Anos depois, atrelado aos festejos religiosos passou-se a realizar também festas com participação de artistas musicais sendo denominadas de micaretas com apresentação de blocos que saiam pelas ruas da cidade, a exemplo do famoso ‘Fura Fronha’, que contava com a participação de cerca de 100 pessoas.
Por um bom tempo a festa foi realizada na Praça Abelardo Alencar onde localizava o antigo Mercado Municipal. Em 1997 a festa ganhou o nome de Festa da Paz e a partir de 2003 passou a ser realizada no Coliseu da Paz, saída para Barreiras, que abriga até 40 mil pessoas, tornando-se o maior evento musical do oeste baiano por reunir grande multidão e artistas de vários estilos musicais.
É valido ressaltar que é nesse período das tradicionais “festas de setembro” que muitos saodesiderenses que hoje residem em outros estados, costumam chegar ao município para participar das missas e das festas. Até a década de 1990 era organizada comitiva que traziam muitas pessoas, vindas principalmente de Goiânia e de Brasília, e que chegavam dias antes para ainda participarem do Novenário de Nossa Senhora Aparecida – realizado de 10 a 18 e visitar os parentes. Elas costumavam vir em ônibus fretado que era aguardado por muita gente, euforia e foguetes em frente à Igreja Matriz.


Chegada de parentes e amigos para as festas de setembro
Outras lembranças das festas de setembro remetem as alvoradas festivas em honra a Nossa Senhora Aparecida, que acontecem na madrugada de 19. Um cortejo sai da Igreja Matriz pelas principais ruas da cidade ao som da Banda Os anéis de Saturno, conduzida pelo maestro Reginaldo, e culmina com um café da manhã com muita farofa. As comemorações da Padroeira são finalizadas com a tradicional missa solene. Na manhã de 20 de setembro é a vez dos devotos do Divino Espírito Santo participarem da tradicional festa do povo, que registra grande participação da população da sede e zona rural. Durante todo o ano, a família do imperador, juntamente com os foliões levam a bandeira, símbolo da festa por todas as localidades do município, sendo o último local a sede, com intenção de arrecadar fundos para a festa. Enquanto isso, homens interessados disponibilizam seus nomes no sorteio da corte do imperador do ano seguinte. A escolha ocorre ao final da missa solene no dia 20. Após a transmissão da coroa, uma multidão visita a casa do novo imperador, e em seguida rumam para um farto almoço servido na casa do então Imperador, com muita música e animação durante todo o dia.

Corte do Imperado do Divino de 1997

Na década de 1990 Pe. Eraldo e sete garotos representando os dons do Espírito Santo

Caminhada da Corte do Imperador à Igreja Matriz



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