K. de B. Kucinski, é uma ótima sugestão de livro de ficção da Literatura Brasileira.
“Embora cada história de vida seja única, todo sobrevivente sofre em algum grau o mal da melancolia. Por isso, não fala de suas perdas a filhos e netos; quer evitar que contraiam esse mal antes mesmo de começarem a construir suas vidas”, pág. 178.
K. é uma obra envolvente, profunda e a narrativa é marcada por culpa, traumas, memórias, esperança, lembranças que perseguem um pai em busca de pistas da filha, desaparecida durante a ditadura militar.
“O pai que procura sua filha desaparecida nunca desiste. As esperanças foram-se, mas não desiste. Agora quer saber como aconteceu. Onde? Quando exatamente? Precisa de saber, para medir sua própria culpa. Mas eles não dizem nada”, pág. 98.
A obra de Bernardo Kucinski é baseada na história do desaparecimento de sua irmã, Ana Rosa.
O autor utiliza dois fatos históricos para contextualizar a narrativa: a ditadura militar brasileira e o Holocausto que vitimou milhões de judeus.
“Oito anos depois a tragédia, K. tenta adivinhar naquele punhado de flagrantes, qual teria sido a última imagem da sua filha? (...) Mas ele não tinha um álbum de fotografias da filha. Tão ocupado com a literatura e seus artigos para os jornais, disso nunca havia cogitado”, pág. 128.
Viver a procura de um ente querido, destrinchar cada capítulo de um fato histórico que marcou tantas famílias. B. Kucinski descreve o passo a passo da saga de K. em busca de indícios da filha utilizando uma linguagem literária que revela o tom de melancolia e de incerteza presentes na figura do personagem principal.
A passagem que mais marcou: “Alguns conheceram sua filha e o marido, eram da mesma organização clandestina, todos conheciam a história, inclusive quem os havia delatado. Sabiam que já estava morta havia muito tempo”, pág. 187.
Por Analitica