terça-feira, maio 04, 2010
A emoção de escrever um livro-reportagem
Em 2009, no último ano de faculdade, o sétimo semestre foi o mais dramático de todos. É quando se pensa demais no tema e modalidade em torno do qual será desenvolvido o anteprojeto. É pior que o oitavo correspondente a produção e defesa do Trabalho de Conclusão de Curso porque nessa fase já esta tudo definido. No sétimo semestre até você definir o que fazer a proximidade do prazo faz você chegar a lugar nenhum. Aí você começa a se iludir e pensar demais, em algo que seja grande, algo fora do comum que ninguém nunca fez e logo é natural o medo de não dar conta do recado. Mas o que seria?
Em comunicação social com habilitação em jornalismo você conta com opções mais dinâmicas. Além da tradicional monografia, uma revista, um site, jornal impresso, documentário e livro-reportagem. Era pesadelo dia e noite. Parecia que todos os colegas já haviam decidido. Queria alguma coisa que fosse ao mesmo tempo divertida partindo do princípio de que apesar de ter passado por muitas emoções, não podia sair da faculdade sem antes viver uma grande aventura. Essa aventura começou a partir do momento que aceitei encarar o desafio de escrever um livro-reportagem sobre o Rio Grande com Jackeline Bispo e Luciana Roque e juntas começarmos também a história das Meninas do Rio. Uma amizade que certamente prevalecerá para o resto de nossas vidas. Tínhamos que fazer muitas viagens e nem imaginávamos o que nos reservava esse trabalho.
Por não existir informações concentradas acerca do Rio Grande foi o fato norteador da produção do livro. Fugindo ao convencional a essência do livro consiste em reunir histórias de pessoas que vivem a margem desse importante recurso hídrico, gente que ainda tira do rio o próprio sustento, um pouco do desgaste que vem sofrendo, o resgate de lendas, receita, poesias, personagens e tudo de interessante que encontramos pelo caminho. Três estudantes com pouco dinheiro e com muita coragem.
Sem planejamentos em lugares inusitados pela terra e água. Muitas vezes nem sequer sabíamos onde ir e quem procurar. O Rio Grande nasce em São Desidério, passa por sete municípios e tem sua foz em Barra. E foi lá que começamos nosso trajeto. Pelas ruas da cidade centenária, casarões, calmaria e em cada canto a presença de estátuas despertou nossa curiosidade para saber de onde vinham. Gérard era o artesão. Para nossa surpresa a argila que ele usa vem do fundo do Rio Grande. Um trabalho marcado por coincidências e por que não dizer providências do destino. Rendeu também o contato com pessoas que lutam por questões ambientais e vida dos rios, mesmo que não seja especificamente a do Rio Grande como o Frei Luiz Flávio Cappio famoso pela luta pela revitalização do Rio São Francisco e por fazer duas greves de fome. Ele também foi um dos personagens do livro. O nosso desencontro com o bispo em Barra fez com que perdêssemos as esperanças. Quase dois meses depois tivemos a felicidade de encontrá-lo às margens do Rio Grande em São Desidério. Oportunidade única.
A caminhada para encontrar a nascente em São Desidério debaixo de um sol escaldante. Pontos turísticos, belezas naturais, paisagens exóticas. Viagens de barco, perigo e muita adrenalina. Dois momentos foram marcantes. A travessia de barco no encontro do Rio Grande com o Rio São Francisco em Barra e 40 minutos que andamos de barco até Jupaguá debaixo do sol de meio dia e o retorno inesperado no meio do caminho por conta da gasolina insuficiente do barco. Nos deparamos com um dos trechos do rio ainda intocados pelo homem com a presença de espécies como o camaleão e o macaco guariba. Só de imaginar que aquele era também o mesmo trecho por onde um dia passaram grandes embarcações é de arrepiar.
O Diário de bordo foi a maneira que encontramos para nos inserirmos no livro porque foram muitas as aventuras e até para justificar um pouco da proposta inicial do nosso livro que era fazer um diário de bordo de uma viagem fluvial por todo o percurso navegável do rio que infelizmente por ausência de recursos e por conta do tempo disponível não foi possível realizar. Essa é a parte do livro onde se encontram descritas detalhadamente as entrevistas, as surpresas, coincidências,os perigos e aventuras como: perseguição de estranho na madrugada que chegamos em Barra, manobras bruscas de barco (eu precisamente por estar acima de cerca de 3 metros de água e só aí me lembrar que não sei nadar, andar agachadas em mata fechada a procura da nascente do Rio Grande, atravessar um pasto com nove touros na fazenda onde se encontra a nascente, receber pedido de casamento de velhinhos solitários com mais de 80 anos.
Ao todo foram cerca de 1900 km rodados e erramos muitas estradas. Agora resta a esperança e muita vontade de um dia publicar essa produção que se desencadeou em “Um rio de histórias”.
Por Ana Lúcia Souza em 04 de maio de 2010
Foto: Ana Lúcia Souza
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Ana Lúcia,
ResponderExcluirNo meio desse desespero pré-tcc achei este seu texto.
Estou vivendo exatamente o que você descreve no início. O que fazer? A data está chegando, todos os grupos já se decidiram e eu nada ainda.
Criei coragem para escrever um livro-reportagem, uma viagem também, mas em terra firme (nada de água, haha).
Gostaria muito de ler o trabalho final. Existe alguma versão do seu livro na net?
Meu contato é: barbarakrenk@gmail.com
Obrigada =) Bárbara.