quinta-feira, agosto 29, 2019

O Perfume - A história de um assassinato (Patrick Süskind)




“...tinha de ser um criador de perfumes. E não apenas um qualquer. O maior perfumista de todos os tempos”. ‘O Perfume – a história de um assassinato’, é a obra escolhida do Dica de leitura do Analítica do mês de Agosto. De autoria do escritor Patrick Süskind, o livro é dividido em quatro partes. Tem por cenário a França no século XVIII e o enredo se desenvolve em torno do personagem central Jean-Baptista Grenouille, que nasceu no lugar mais fedorento de Paris em 17 de julho de 1738. 

Desde o episódio de nascimento de Grenouille, narrado no início da história, o autor já deixa evidente, por meio de uma linguagem carregada de detalhes, as condições precárias que o personagem veio ao mundo. O nascimento de Grenouille ocorre atrás da banca de feira, onde a mãe costumava tratar peixes. “A carne ensanguentada que dela saíra não se diferenciava muito das vísceras dos peixes que já estavam atiradas pelo chão, e também não vivia mais muito tempo (...) contrariando as expectativas, a coisa recém-nascida começa a chorar debaixo da mesa de limpar peixe. Procura-se, encontra-se o bebê num enxame de moscas e entre vísceras e cabeças de peixe, é puxado para fora”. 

O bebê é largado à própria sorte dias depois do assassinato da mãe. “Foi largado no Convento de Saint-Merri, na Rue Saint-Martin, batizado recebeu o nome de Jean-Batiste e entregue a uma ama de nome Jeanne Bussie, que passou a receber três francos por semana por seus cuidados”. Passados alguns dias a ama o devolveu ao convento alegando que aquele bebê não possuía odor próprio. Durante a infância foi vendido e também trabalhou como aprendiz de cortume e de perfumista. Mas a sua trajetória estava apenas no começo.

“O odor é a essência, e o que não tem essência não existe”. Partindo dessa máxima o autor direciona os destinos de seu personagem. O olfato aguçado era sua característica primordial e já na fase adulta, o convívio com algumas pessoas, a exemplo de Baldini – o maior comerciante de material aromático de Paris – uma oportunidade bastante especial tendo em vista que na Paris desse período só existia cerca de meia dúzia de perfumistas. E Grenouille, usando as técnicas que aprendeu, passa a criar perfumes e a buscar sua própria essência. “Pois Grenouille possuía de fato o melhor nariz do mundo, tanto analítico quanto também visionário, mas ainda não tinha a capacidade de se apoderar fisicamente dos cheiros ”.

O autor faz diversas intervenções sobre os odores da cidade de Paris, dos becos e vielas, do rio Sena, ao qual destaca que já fedia tanto que o seu fedor sobrepunha ao dos cadáveres. Outro destaque são as descobertas e experiências que vão assinalando o amadurecimento de Grenouille ao longo da narrativa. “Não demorou muito em tornar-se um especialista na área de destilação. Descobriu – e o seu nariz o ajudou mais do que o conjunto de regras de Baldini – que o calor do fogo tinha uma influência decisiva na qualidade do destilado. Cada planta, flor, madeira e cada oleácia exigia um procedimento específico”. 

E a cada vez que aprendia ‘sua ambição era dominar o fugaz reino dos perfumes’. “Seu plano era produzir substâncias aromáticas completamente novas e com isso, criar ao menos alguns odores que carregava dentro de si”. Sua meta estava mais do que definida e Grenouille era muito persistente. “Seu plano era produzir substâncias aromáticas completamente novas e com isso, criar ao menos alguns odores que carregava dentro de si ”.

Sua obsessão na busca pelo perfume perfeito o levou ao desejo de se apossar do odor de uma moça, que ele considera ser diferente de todos que já havia sentido. Para isso, ele comete o primeiro assassinato para obter o perfume da vítima. “Já nem conseguia se lembrar da imagem da mocinha da Rue des Marais, do seu rosto, do seu corpo. Tinha preservado e se apropriado do melhor dela: o princípio do seu perfume”.

O caminho para alcançar esse sonho também é marcado por desilusões e frustrações do personagem. Grenouille se afasta das pessoas e de Paris, na tentativa de fugir do seu próprio passado. Nesse período ele percorre outras cidades como Auvergne, Montpellier e Grasse, de onde foge posteriormente após fazer outras 25 vítimas com o mesmo objetivo da primeira. “O que ambiciava era a fragrância de certas pessoas: daquelas, extremamente raras, que inspiram amor. Essas eram suas vítimas”. Após retornar a Paris Grenouille tem seu fim ao ser devorado por prostitutas e ladrões no Cemitério dos Inocentes.

Tive certa resistência em ler a obra no início, pois não tinha impresso em mãos e não sou muito adepta de ler livro em tela de computador, mas dessa vez não tive opções. Desde o início do livro e no decorrer da narrativa o autor aborda uma linguagem clara e objetiva, e não economiza nos termos ao reproduzir sensações e cheiros com fidelidade e tamanha precisão, que para mim, por vezes, tive a impressão de sentir os odores descritos dos lugares e pessoas ao longo do enredo. Penso que o autor quis brincar um pouco com esses odores e de certa forma quis fazer crítica quanto às condições de pobreza a qual se encontrava a maioria das pessoas, visto que a sociedade dessa época era organizada em Clero - Nobreza - Burguesia. E é nesse cenário de burguesia que o enredo se aprofunda mais, onde o autor descreve a economia, as condições sócio-históricas e a miséria da velha Paris do século XVIII. 

Talvez o autor utilize o título ‘O Perfume’ numa tentativa para esconder essa imagem de fedores descrita ao longo da história. A busca pela ‘essência perfeita’ por Grenouille pode também ser entendida como uma esperança de melhoria e de busca por oportunidades que lhe foram furtadas desde a infância e que após conseguir alcançar certo renome, esse momento é passageiro e o desfecho de Grenouille é trágico, devorado por ladrões e prostitutas que eram vistos como a escória da cidade. 

Curiosidades – A obra foi adaptada para o cinema com o lançamento do filme em 2006, com participação de Dustin Hoffman no elenco. O livro – que era preferido de Kurt Cobain, líder da banda Nirvana - também o inspirou a escrever uma canção para o do Álbum In Útero de 1993, intitulada “Scentless Apprentice” que numa tradução aproximada pode ser entendida como ‘Aprendiz de aromas/perfumista’, função desenvolvida pelo personagem principal do livro.

Palavras-chave: essência – olfato – odores – persistência – experiências – técnicas – Paris - assassinatos


Por Analítica
Foto: Divulgação




quarta-feira, agosto 28, 2019

Leitora à moda antiga



Comprar livros, ganhar livros, dar livros de presente, ter livros para emprestar. Considero que ainda tenho poucos livros. Sempre gostei de comprar livros, desde quando cursava o Ensino Fundamental e dos romances comprados a R$1,99 para ler em casa e também no período de férias. Continuei fazendo isso no Ensino Médio e depois na faculdade, quando comprei vários títulos de literatura jornalística. Nunca vi isso como uma obrigação. Pelo contrário. Além de comprar as obras ditadas pelo professor também gostava de adquirir, sempre que pudesse, algum livro que gostasse ou queria ler. Mas aumentar meu acervo pessoal tornou-se uma meta pessoal nos últimos anos. 


Não desrespeitando os leitores da web, confesso que sou uma leitora à moda antiga. Gosto de pegar o livro, sentir o cheiro, colocar dentro da bolsa, carregar para onde for. Baixar livros em formato PDF, ler no celular, na tela do computador, para falar a verdade, não aprecio muito. Somente em último caso, quando não é possível tê-lo em mãos. Gosto de pensar que esse é um fator que de certa forma também contribuiu para eu incrementar meu acervo. Enquanto não ganho livros – apesar de já ter ganhado vários de presente - continuo comprando e lendo.



Já comprei muitos livros pela internet, em sebo, feiras ou com o próprio autor só para ter a oportunidade de ganhar um autógrafo. Tenho vários livros autografados e isso me enche de orgulho e também de ciúmes por esses especialmente. Costumo reafirmar para isso que gosto de ‘ter para emprestar’. E se cuidam quando empresto, melhor ainda. Poderei emprestar outras vezes. Não tenho problema nenhum em emprestar. ‘Empresto de boa!’. Mesmo que seja acompanhado de uma orientação básica.

- Cuidado tá? Não vai dobrar a página, sujar, sublinhar as palavras ou rabiscar hein? Pelo amor de Deus! – oriento exaustivamente assim antes de emprestar. É claro que essas orientações às vezes são dispensadas aos que já tem conhecimento dessa minha ‘chatice’, ou ‘cuidado’, como prefiro chamar. Muito embora sempre tivesse também o hábito/controle de anotar para quem empresto e a data. Para dar uma lembrada de vez em quando, assim...sutilmente, sabe? Caso a pessoa talvez esqueça. Algo do tipo – E aí? Está gostando de ler o livro? 

Gosto de comprar obras que esteja namorando há algum tempo, só para ter em minhas mãos e depois ler com prazer! Faz parte da minha satisfação como leitora. Já saí para comprar algo totalmente nada a ver com livros, e acabei trazendo livros para casa. Dois. Três. Quatro. Apenas um. Sou do tipo de leitora que compra livros mesmo que tenha em casa algum ou outro exemplar que não tenha lido ainda. Que adquiri a obra para matar a curiosidade de ler um enredo interessante. Para conhecer o estilo de algum autor contemporâneo ou dos quais sempre ouvia falar a vida toda, mas que não tive contato. Para presentear alguém. São vários os motivos. Não caberia aqui listar todos, afinal nunca é demais comprar livros para ler. 

Mês passado, entrei numa loja que já tenho costume de comprar livros – não é livraria, mas dispõe desse setor – e seguindo uma atitude principalmente de dúvida, comprei quatro livros. Três de uma autora contemporânea que ainda não conhecia, mas que já havia pesquisado a respeito, e outra obra que é sequência de um autor que já li. Na semana passada estive na mesma loja e me deparei com uma estante repleta de livros que colocaram perto da entrada. Até gostei disso porque ficou mais visível, pois da última vez, me desloquei até a parte superior da loja. Se foi uma estratégia, não sei se posso chamar assim esta mudança, só sei que gostei muito. A essa altura nem sabia mais para qual finalidade primordial havia me conduzido à tal loja, mas seja lá qual foi, não interessava mais. Já estava perto de tantos títulos, autores e não havia absolutamente nenhuma chance de arredar o pé dalí sem escolher pelo menos uma obra. Umazinha que fosse para voltar para casa feliz e satisfeita. Em meio a tantos já lidos, outros que sonhava em ler, outros desconhecidos, alguns que já tinha ouvido falar, respirei fundo enquanto analisava algumas obras. Do meu lado havia uma senhora que parecia também estar na dúvida. Ela riu e espontaneamente leu para mim a sinopse de um livro cujo título era bem engraçado.


- Interessante! Ainda não li este – Comentei.

Por um instante parecia que éramos as melhores amigas naquele setor da loja, embaladas por um misto de prazer e euforia enquanto comentávamos a respeito de alguns exemplares. Continuamos nos falando por mais alguns instantes. 

- Esse daqui – falou ela apontando para um livro – eu ainda não li. Mas assisti ao filme. 

- Prefiro ler primeiro a obra e se puder depois assistir ao filme. Muitas vezes o filme não reproduz fielmente a obra, assim com riqueza de detalhes. Por vezes nem sempre é como esperamos que fosse. Repeti mais ou menos esse clichê e ela pareceu concordar enquanto apontava outras obras. 

Quase certa de qual obra escolher, pois já havia passado alguns minutos desde que chegara à loja, me concentrei em pegar apenas um livro desta vez. Despedi da minha amiga literária e fui em direção ao caixa, feliz e com o mais novo livro do meu acervo. Era um somente, mas estava satisfeita com o investimento realizado e ansiosa para conhecer o enredo.

Por Analítica

segunda-feira, agosto 19, 2019

Leitura e produção literária no III Festival da Juventude em São Desidério


Durante a programação do III Festival da Juventude, evento idealizado pela Prefeitura de São Desidério por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS) ocorrido entre os dias 15 e 16 de agosto, foi oportunizado um momento de Roda de Conversa com autores e produtores literários do município e região. 

Na tarde de sexta-feira 16, na Praça Abelardo Alencar participaram da roda de conversa as jornalistas Ana Lúcia Souza, Jackeline Bispo e Luciana Roque autoras do livro-reportagem 'Um rio de histórias', Florentino Augusto de Souza Filho escritor de 'São Desidério de A a Z: sua história, minhas lembranças', Aldair Pereira de Oliveira Santos autora de 'Simplesmente Poesia' e o professor da Universidade Federal do Oeste (UFOB), Valney Dias Rigonato autor da obra 'Saberes Ambientais do Cerrado'.

Os autores partilharam sobre o processo de produção das obras, interagiram com o público e deixaram uma mensagem de incentivo à leitura e escrita aos participantes. Confira alguns registros desse momento:








Café da UFOB - Um dos momentos mais aguardados do III Festival da Juventude e que marcou o evento foi a realização do Café da UFOB no espaço da Lavanderia Cultural, na noite de quinta-feira 15. Em sua 10ª edição, o Café reuniu apresentações das manifestações culturais do município, a exemplo de Reisado, Festa do Divino Espírito Santo, Lamentação das Almas, cavalgada, além de muita música, rodas de samba, poesias, teatro e mostras de projetos desenvolvidos pela Secretaria de Assistência Social por meio do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS). 


O momento contou com a presença de artistas da terra e região que por meio de lindas performances  enfatizando as tradições do município. Presente no evento, o Frei Dom Luiz Flávio Cáppio, bispo de Barra, foi o homenageado desta edição do Café. Na oportunidade as autoras de 'Um rio de histórias' reencontraram o Frei Luiz, que é um dos personagens do livro e lhe entregaram um exemplar da obra.













Exposição de Trabalhos Acadêmicos - Outra modalidade que integrou a programação nesta terceira edição do Festival da Juventude foi a apresentação de trabalhos acadêmicos por meio de três eixos: Eixo 1 - Desenvolvimento Econômico e Desigualdade; Eixo 2 - Meio Ambiente e Eixo 3: Cultura e  Identidade;



Por Analítica


Alice no país das maravilhas (Lewis Carroll)

  "O segredo, querida Alice, é rodear-se de pessoas que te façam sorrir o coração. É então, e só então, que você estará no País das Mar...