Corte do Imperador do Divino em 1997
Em São Desidério, o mês de
setembro é dedicado aos festejos religiosos de Nossa Senhora Aparecida, 19, e
do Divino Espírito Santo, 20, devoções centenárias comemoradas no município fora
das datas oficiais - 12 de outubro (Nossa Senhora) e 40 dias após a Páscoa
(Divino Espírito Santo). Fato que se justifica pelas denominadas ‘desobrigas’, comuns
em um período em que havia um mesmo padre disponível para cobrir uma grande
região, e por isso sua visita era realizada uma única vez em cada município.
Por este motivo, essas datas se tornavam oficiais, mesmo que fora de época, para
celebrar os festejos religiosos.
Reza a lenda que Pe. Armindo,
um dos primeiros padres foi durante muito tempo o pároco responsável por
atender a região onde hoje se concentra o oeste da Bahia. Ele costumava
percorrer os vilarejos montado em uma mula para celebrar as missas. Ainda na época que São Desidério era um
vilarejo, recebia o sacerdote que realizava as missas da Padroeira no dia 19 de
setembro, e no dia seguinte, do Divino Espírito Santo. Em seguida eram realizados
batizados, casamentos, 1ª Eucaristia, Crisma para aproveitar a oportunidade.
Como este fato só acontecia uma vez por ano, a população aproveitava o momento
para comemorar com festas que animavam os fiéis.
Com o tempo, a tradição dos
festejos religiosos entrou para o calendário cultural de São Desidério e ficou
conhecida também como “Os festejos de setembro”. Anos depois, atrelado aos
festejos religiosos passou-se a realizar também festas com participação de
artistas musicais que por um bom tempo foram realizadas na Praça Abelardo
Alencar, onde localizava o antigo Mercado Municipal, e a partir de 2003 a festa
foi transferida para o Coliseu da Paz, saída para Barreiras.
Minha vó, dona Si, relata um
episódio a marcou certa vez em um dos casamentos que presenciou nesse período. Segundo
ela, o padre Armindo celebrava mais de 10 casamentos na ocasião e quando
perguntou a um dos casais se aceitavam um ao outro como marido e mulher, a moça
respondeu que não. Muito espantados ficaram os fiéis, principalmente a família
da noiva. Mas para a surpresa de quem assistia a celebração, na mesma hora uma
mulher que estava presente se prontificou a casar com o noivo, e o casamento
enfim se consumou.
Chegada de comitivas
Comitivas - Muitas pessoas
naturais de São Desidério e que atualmente residem em outros estados costumam
retornar ao município nesse período que há muitos anos ficou conhecido como as
tradicionais “festas de setembro”. Até a década de 1990 eram organizadas comitivas
que traziam muitas pessoas, vindas principalmente de Goiânia e de Brasília, para
participar das festas e visitar os parentes. Elas costumavam vir em ônibus
fretado que era aguardado por muita gente, euforia e foguetes em frente à
Igreja Matriz.
Festa da
Padroeira – Os festejos de Nossa Senhora Aparecida
começam no dia 10 de setembro com o novenário em honra a Padroeira, realizado
na Igreja Matriz. Durante todas as noites, pastorais, grupos e movimentos organizam
quermesse com venda de comidas típicas na Praça da Igreja. Uma alvorada festiva na madrugada de 19 dá início às comemorações,
marcada por um cortejo que sai da Igreja Matriz pelas principais ruas da cidade
ao som de marchinhas conduzidas pelo maestro Reginaldo, e culmina com um café
da manhã servido com muita farofa. A celebração da missa solene às 18 horas
encerra as festividades da Padroeira com o sorteio dos novos juízes, pessoas
encarregadas de organizar a festa do ano seguinte.
Festa do
Divino - Na manhã de 20 de setembro é a vez dos devotos do Divino Espírito
Santo participarem da tradicional missa solene, que todos os anos registra
grande participação de moradores da sede e zona rural do município, além de visitantes. A
missa termina com o sorteio do novo Imperador e corte. Após a transmissão da
coroa todos se dirigem a casa do Imperador da festa onde é servido o popular
almoço animado com muita música. Uma das
festas mais populares, a Festa do Divino tem seus preparativos durante todo o
ano, quando a família do Imperador juntamente com os foliões levam a bandeira, um
dos símbolos da tradição, por todas as localidades do município, sendo o último
local a sede, com intenção de arrecadar donativos para a festa. O festejo é
coordenado pelo Imperador e sua corte formada por: Alferes da Bandeira (quem
conduz a bandeira), Caudatários (responsáveis pelo isolamento da corte durante
o circuito), Procurador da Bandeira (encarregado por buscar interessados e adicionar
seus nomes para participarem do sorteio da corte do Imperador do ano seguinte) e
Capitão do Mastro (aquele que organizará juntamente com a comissão a Pegada dos
Mastros onde serão erguidas as bandeiras da Padroeira e do Divino, no primeiro
sábado de setembro).
Texto: Ana Lúcia Souza
Que lindo! Queria muito estar aí e participar!
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