Foto divulgação
Aquela
tarde de domingo já estava findando. Estávamos retornando do distrito de
Sítio Grande, a cerca de 15 km da sede do município de São Desidério. Minha
irmã mais nova, minha mãe, meu pai e eu. Nosso lazer aquele dia estava garantido.
Passeio de caminhão e um bom banho nas águas do Rio Grande que banha aquele
distrito. Por volta de pouco mais de 16 horas, meu pai decidiu que já era hora de ir embora,
assim evitaria um tráfego maior no retorno para casa, tendo em vista que os
outros motoristas sairiam pelas 17 horas.
Eis que no caminho de volta, depois de tanto lhe pedir insistentemente pelo controle do volante, meu pai, que já estava um tanto quanto "alegre", resolveu atender meu pedido, para minha alegria, e surpresa da minha mãe e da minha irmã, que começaram a ficar eufóricas.
Trocamos
de lugar, eu e meu pai. Ao assumir a posição de motorista, fui tomada por uma
sensação de entusiasmo. Era tudo o que precisava, afinal a carreta estava vazia e pensava ser esta uma boa oportunidade, visto que naquele ano de 2002,
tomara as minhas primeiras lições de direção com meu pai.
Pronto. Estava sentada, coloquei o sinto, apertei a embreagem que, por sinal, estava muito pesada, e engatei a primeira. Acelerei, e nada.
Pronto. Estava sentada, coloquei o sinto, apertei a embreagem que, por sinal, estava muito pesada, e engatei a primeira. Acelerei, e nada.
- O que está acontecendo? Indaguei.
Minha mãe gritou de lá, já nervosa, falando que eu não estava pronta para dirigir caminhão. Mas eu e meu pai riamos muito da situação. Enquanto isso, refiz a sequência sem sucesso. Enquanto insistia na tentativa de fazer a carreta andar para frente, sentimos que ocorria exatamente o inverso, vagarosamente. Minha irmã, também descontente com aquele episódio, de repente olha o retrovisor e aos gritos alerta:
- Cadê a carroceria? A carroceria sumiu!
Ao conferirmos no retrovisor, e após perceber a fumaça provocada pela aceleração dos eixos traseiros, observamos que de fato, só o cavalo mecânico estava proporcionalmente na pista. A carroceria havia descido para dentro do mato, configurando o formato de um “L”, conhecido também como efeito “canivete”. Os risos cessaram, e o silêncio tomou conta da cabine onde estávamos, interrompido apenas pelas broncas da minha mãe, que ficou muito brava.
- Eu falei. Eu falei. Não sei se Ana Lúcia sabe dirigir caminhão!
Descemos do caminhão e ficamos algum tempo olhando o efeito provocado. Olhando uns para os outros no meio do nada. Alguns carros passavam nos dois sentidos, e os motoristas paravam para saber se tinha sido acidente. Eu só queria rir, mas disfarçava e respondia de pronto aos curiosos:
- Fui eu mesma! Afirmei.
Enquanto contemplávamos o efeito “L”, estudávamos a possibilidade de resolver a situação, afinal, se tratava do nosso meio de transporte que agora estava ali, metade dentro do mato e outra na pista. Demorou cerca de uma hora, até passar um caminhoneiro, que se ofereceu para puxar a carreta de dentro do mato utilizando um cabo de aço. Ufa! Estava resolvido o problema, de forma segura. Uma tarde memorável aquela, sem danos ou feridos, mas com uma desilusão: estava finalizada ali qualquer possibilidade de tornar-me uma caminhoneira.
Efeito “L” ou “Canivete” – é provocado pelo travamento do eixo traseiro do cavalo mecânico. Eliminar o freio no eixo dianteiro põe em risco o conjunto e aumenta a possibilidade do “L”.
Texto: Ana Lúcia Souza / Foto: Divulgação
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