Outro dia, retornando de Brasília, ouvi um rapaz dizer no
ônibus que havia ido fazer uma prova, e que não obteve êxito, porque não havia encontrado
o local. Imediatamente lembrei-me de uma situação parecida ocorrida com uma
pessoa bem próxima a mim, e da agonia que ela viveu há exatamente um ano, em 25
de setembro de 2011, também em Brasília.
Minha amiga chegou cedo à capital federal esse dia. Depositava
toda sua esperança na prova que iria fazer e que talvez mudasse sua vida, pois
naquele instante, se encontrava desanimada profissionalmente, no interior da
Bahia, onde vive. A prova estava marcada para as 13 horas, na Universidade de Brasília,
mas muita coisa ainda lhe estaria reservada com muita adrenalina. Ela se
hospedou na casa de uma velha amiga, na cidade satélite de Taguatinga. Ainda houve
tempo para colocaram os papos em dia.
Pouco antes do meio dia, ela achando que estava
preparada, inclusive com o endereço do local da prova em mãos, sai juntamente
com sua amiga com destino ao Plano Piloto, em Brasília, onde chegam após pegar um
metrô e andar alguns minutos. Almoçam, tiram fotos.
Após alguns passos dalí
chegam ao imenso campus da UNB. Mais alguns minutos andando e com a ajuda de
algumas pessoas que informaram, chegam exatamente ao local da prova com uma
hora de antecedência. Mas nem tudo está certo ainda e o pior ainda está para
acontecer. Por uma intuição ela percebe que tem que conferir na bolsa se está
tudo certo com a documentação que tem que apresentar para fazer a prova. Para a
sua surpresa esquecera o documento de identificação. E agora?
Mil coisas passaram em sua mente. A viagem, os amigos na
rodoviária e seus familiares que lhe deram forças para realizar essa prova. Como
ela voltaria para casa sem fazer a prova? E agora o que fazer? Parecia estar
tudo perdido mesmo. Afinal, devido à distância da UNB, em Brasília, até
Taguatinga, e com pouco menos de uma hora para o início da prova, parecia ser o
fim. Por um impulso ela liga para outra amiga com quem veio da Bahia para também
fazer a prova, e lhe conta a situação, desesperadamente. Ela havia chegado
naquele instante ao local com seu tio, que está de carro. Ele oferece carona
para tentar buscar o documento. Seria sorte? Ainda daria tempo?
Pelo caminho, mais desespero, agonia e a ansiedade a mil
enquanto ela apela para todos os santos e reza todas as orações que sabe. Faz
muito calor, Brasília apresenta o clima muito seco a essa época do ano. São
muitas paradas necessárias por conta dos pardais, sinais de trânsito, etc.
Enquanto isso o motorista e a amiga tentam acalmá-la, sem sucesso. São mais de
13h30min quando enfim chegam ao apartamento de sua amiga. Pegam o documento e
agora outra viagem de volta a UNB. Mais orações. Os olhos não saem do relógio. Nervos
a flor da pele. A ansiedade é tamanha dentro do carro. Chegam a UNB. O relógio
registra 14 horas. Mas agora o desafio é encontrar o local exato da prova. “Não
dá mais tempo, valeu pelo esforço”. Agradece ao motorista. “Mas você não vai
tentar? Vai lá ver quem sabe ainda não dá tempo”, ele retruca. Quase com as
pernas sem forças para sair do carro ela mesmo assim faz sua última tentativa.
Sai correndo e entra na recepção. Um senhor que parecia já conhecer a situação
a encontra. “Corre que só falta você. Por aqui, por aqui”, e aponta o corredor
onde seria seu local de prova. Ela corre, pois já não há mais ninguém no
corredor, todos os candidatos já se encontram posicionados dentro das salas.
Faltam poucos segundos. O coração bate mais forte. Ela finalmente entra na sala
e corre para a primeira carteira vazia onde senta em desespero. No mesmo
instante toca o sinal para o início da prova. Ao verem aquela cena todos
começam a rir. E ela está tão elétrica que nem se deparou que sentara na
carteira errada. Pausa para respirar. Ufa! Agora sim, está tudo certo. Ainda é inacreditável
ela está ali, pois ainda pouco vivia a agonia de talvez não chegar a tempo. O
fiscal a orienta para se sentar na cadeira correta, onde está sua prova personalizada
com seu nome. Para ela, realizar aquela prova agora já se tratava de uma grande
vitória. Concorrer ao cargo de gestor em atividades jornalísticas pela Empresa
Brasil de Comunicação (EBC), era apenas um detalhe.
Ao final da tarde, após finalizar a prova reencontra suas
amigas que a esperavam. Sorriram muito da situação. Agora podem descontrair. Vão
até o ponto de ônibus e se deparam com uma moça que teve a oportunidade de conhecer
o oeste da Bahia. Ela espera pelo namorado. A conversa rende uma carona até a rodoviária
do plano. Já é noite e agora, só resta um passeio pelo shopping, afinal o que
mais de tão ruim poderia acontecer depois de um dia marcado por agonia. Neste
instante a sandália quebra. Mais risos. Mas o passeio segue assim mesmo, pois
esse simples fato não representa nenhum agravamento perto do que lhe aconteceu.
Esta história é um fato real e somente um ano depois a
personagem teve a coragem de torná-la pública em seu blog.
Dedico este texto as pessoas envolvidas nessa agonia e
que foram anjos nesse dia foram anjos em minha vida. Michelly, Jackeline, dona
Fátima (in memorian) e o tio da Jacky, Silvano, conhecido como Farrapos.
São
Desidério – BA, 25.09.2012