Já havia tido contato com a obra da autora em ‘A hora da estrela’, 'Felicidade Clandestina' e 'Perto do coração selvagem', e agora ‘Laços de família’, obra publicada em 1960 em que Clarice Lispector reúne várias temáticas em 13 contos: Devaneio e embriaguez duma rapariga, Amor, Uma galinha, A imitação da rosa, Feliz aniversário, A menor mulher do mundo, O jantar, Preciosidade, Os laços de família, Começos de uma fortuna, Mistérios em São Cristóvão, O crime do professor de matemática e O búfalo.
Dos contos que mais gostei, 'A galinha' e o que dá nome ao livro, 'Laços de família'. “Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove da manhã. Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio”, p. 28.
Algo que é bem característico da escrita de Clarice, é o fato da autora sempre reservar algo surpreendente na narrativa. “Quase inocentada, meneando uma cabeça incrédula, a boca entreaberta. Inocente, curiosa, entrando cada vez mais fundo dentro daqueles olhos que sem pressa a fitavam, ingênua, num suspiro de sono, sem querer nem poder fugir, presa ao mútuo assassinato. Presa como se sua mão se tivesse grudado para sempre ao punhal que ela mesma cravara”, p. 129.
Gosto do estilo da autora. É sempre bom ler Clarice por trazer uma escrita simples que aborda temáticas comuns, do nosso dia a dia, e sempre com narrativas bem estruturadas que buscam desvendar a essência humana e que de certa forma aproximam o leitor atribuindo uma relação de intimidade com o que está lendo.
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