Oh! Que saudades que tenho. Dessa fase da minha vida. Da infância, do meu avô e da vozinha querida. Que já não tenho mais. Quantas saudades, quantos cheiros, quantos sabores! Naquelas tardes no quintal da casa de meus avós. À sombra do frondoso pé de manga. Detrás dos pés de plantas. Como eram divertidos os dias. Em que predominava a paciência. De tantas brincadeiras e a inocência. Do cheiro do biscoito que a Vó assava no fogão à lenha. Ou da fragrância do sabonete do Vô. A Vó – bordava ponto de cruz. O Vô – gostava de contar histórias e cochilar no sofá. A casa – era muito aconchegante com a presença deles. E o quintal – um sonho para brincar. Que saudades, que sonhos, quanta alegria! Às noites sentávamos à porta. Sempre em boa companhia. E ninguém a reclamar. Oh! Que saudades que tenho. Dessa fase da minha vida. Da infância, do meu avô e da vozinha querida. Que já não tenho mais!
O texto acima é uma parte da Releitura do poema 'Meus oito anos’ de Casimiro de Abreu, produzido durante a Oficina de Escrita Criativa ministrada por Mariana Paim, em 23/07.
Aos fins de tarde, meus avós, seu Zé e dona Si, costumam sentar em frente de casa, um de cada lado da porta, em suas cadeiras com assento de couro. Observam o movimento da rua e respondem aos cumprimentos de quem passa. Tem aqueles, que mais que um cumprimento aceitam um convite para tomar um café ou chá e se juntam a eles na calçada para prosear um pouco. Para meu avô Zé, um nato contador de histórias, esse é o momento para contar seus casos, então ele logo começa a falar de quando viajou para o Mato Grosso ou algumas de suas façanhas de quando trabalhava na roça. De outro lado a Vó ri alto, como ela mesma diz, gosta de rir do mal feito, ou repreende o Vô por seus exageros. Muitas vezes a Vó chama o Vô tentando acordá-lo, quando ele se rende a um cochilo rápido, ali mesmo sentado, e não ouve um afilhado, sobrinho, neto ou alguém que chega e lhe estende a mão para pedir a 'bença'. Em datas comemorativas, quando chegam parentes de perto ou de longe, é motivo para pegar mais cadeiras e acomodá-las na calçada. Os adultos se sentam para conversar, eu e as primas ficamos por ali, brincando. É uma diversão ir para casa dos avós e sentar à porta, principalmente nos fins de semana, quanto tem festas na cidade. Como ainda não temos idade para ir às festas, sentar em frente da cada dos avós é como um camarote para ver o movimento da rua e a aglomeração que se forma em frente à Bailônia Zoom (onde hoje é o Centro Cultural). E quando se formam brigas? A Vó e o Vô logo nos chama para entrar para casa enquanto se acalmam os ânimos lá fora. O muro da casa dos avós é baixo, então aproveitamos que os adultos estão sentados lá fora, pegamos cadeiras e levamos para o corredor escuro, onde colocamos as cadeiras encostadas no muro e subimos para espiar a festa que acontece lá dentro. Me vejo também no quintal da casa de meus avós ainda criança, brincando com minhas primas. O quintal é grande e tem muitas plantas que dá pra brincar de esconde-esconde atrás delas. Corremos, fazemos comidinhas com as plantas, subimos no pé de manga onde cada uma fica em uma parte. Tem um pé de maracujá que vai se enrolando em volta de alguns galhos. Arrancamos pedaços desse pé de maracujá e dizemos que estamos fumando. Sapequices de criança! Na hora do lanche, deliciamos biscoito de pomba de maroto que a Vó faz e tomamos com café, ou com pêta e o ginete, que sempre têm, pois no quintal tem um forno a lenha de fazer pêta. No dia de fazer os biscoitos é sempre uma festa. Nossa contribuição é na hora de espremer a massa para fazer o ginête. Quando a Vó não está por perto é impossível não colocar um bolinho de massa crua na boca. Quando a Vó se aproxima logo percebe as bochechas inchadas do volume da massa e reclama que é por isso que o ginete não rende. O que para nós é motivo de gargalhada. Outro tempo bom é o período das mangas. O Vô chama para saborear as pequenas mangas que ele mesmo recolheu do chão e colocou em uma velha gamela de madeira. As mangas são tão deliciosas e suculentas que escorrem pelos dedos e sujam nossas roupas. Ah, tem também as aulas de bordado em ponto de cruz ministradas pela Vó, que aprendeu esse ofício quando tinha 13 anos e ela mesma faz questão de nos ensinar. Enquanto sentamos nas cadeiras distribuídas entre a sala da copa e o quintal, a Vó nos entrega pequenos pedaços de pano com os desenhos para reproduzir. São figuras de laranjas, maçãs, folhas e outros bordados que ela produziu e que agora nos servem de matriz. As primas que já dominam a arte, ousam fazer bordados maiores em almofadas, caminhos de mesa, pano de fogão entre outros. Mas a exigência da mestra é a mesma para todas: 'Que façam bem direito e que o bordado tenha o fundo limpo!' Aos poucos os pedaços de tecido em branco vão ganhando formas e cores, para a satisfação de nossa mestra.
Hoje vejo a casa de meus avós fechada e me recordo com muita saudade deles e de tantos momentos de encontro em família. Outro dia li um texto do site Retratos Contados de autoria de Nelson Mateus que se intitula 'Quando a casa dos avós se fecha' que relata a respeito desse momento que é muito triste e marca a vida de muitos. Algo que traduz exatamente os sentimentos em torno do que representa a casa do avós e das memórias afetivas. Destaquei alguns trechos do texto que considerei mais simbólicos para finalizar este post. Confira abaixo!
A Analítica
"Acho
que um dos momentos mais tristes da nossa vida é quando a porta da casa dos
avós se fecha para sempre! [...] A casa dos avós está sempre cheia de cadeiras, nunca se sabe se um primo
vai trazer a namorada, porque aqui todos são bem-vindos. [...] Quando
fechamos a casa dos avós, também terminamos as tardes felizes com tios, primos,
netos, sobrinhos, pais, irmãos e até recém-casados que se apaixonam pelo
ambiente que ali se respira. Estar na casa dos avós é o que toda família
precisa para ser feliz! [...] É
dizer adeus à emoção de chegar à cozinha e descobrir o que está dentro das
panelas, e saborear a comida da Vó. [...] Na
família, é onde os filhos e os netos encontrarão o espaço oportuno para viver o
mistério do amor por quem está mais próximo e por quem está ao nosso redor. Aproveitem
muito a casa dos avós, pois irá chegar o tempo em que na solidão das paredes e
recantos, se fecharmos os olhos e nos concentrarmos, poderemos ouvir talvez o
eco de um sorriso ou de um grito, preso no tempo. De
resto, é garantido que ao abrir os olhos, a saudade vai falar mais alto, e
vamos questionar-nos: por que tudo foi tão rápido? É
doloroso descobrir que as portas das casas dos nosso avós estão fechadas para
sempre! No entanto, o mais importante é no nosso coração, e nas nossas
memórias, as casas dos nossos avós permanecerem eternamente com as portas e as
janelas abertas de par em par!" (Retratos Contados 'Quando a casa dos avós se fecha' de Nelson Mateus.
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