sexta-feira, julho 05, 2019

Um olhar triste numa loja de instrumentos musicais


Numa tarde de abril de 2019, bastante entusiasmada com o início das aulas de violão, fui até uma loja de instrumentos musicais em Barreiras, distante 27 km de São Desidério, onde moro, para comprar meu próprio violão. Assim poderia aperfeiçoar os estudos em casa, como sugerido pelo professor de música. Diante de uma infinidade de marcas e modelos não sabia qual instrumento escolher ao certo. Um vendedor veio ao meu encontro me explicar.

De repente a imagem de uma pessoa que adentrava à loja, chamou minha atenção. Nessa hora não mais ouvia o que o vendedor explicava, apesar dele continuar falando. Minha atenção se voltou inteiramente para quem acabava de entra na loja. Minha memória insistia em recordar de alguém que parecia já ter conhecido. Outros vendedores gritaram um nome que parecia ser seu apelido e isso logo me levou a crer que realmente se tratava de quem eu imaginava. Tentando disfarçar e ao mesmo tempo olhando, a sua condição atual foi o que mais me impressionou. Seu braço esquerdo mutilado e enfaixado pouco abaixo do ombro parecia ter sido algum acontecimento recente. E eu continuava olhando para ele. Não para o braço, mas para ele, tentando imaginar o que teria acontecido de fato. Seu rosto estava triste e seu olhar aéreo. Percebendo que eu o olhava, adentrou à loja, onde me encontrava, e também me encarou ao passar por mim. Perguntei se lembrava de mim, pois havíamos estudado juntos há muito tempo atrás em São Desidério. Rapidamente, ele balançou a cabeça confirmando e sorriu ponderado indo se sentar aos fundos da loja onde esperavam outros vendedores amigos seus. Fiquei estática. Tentei não continuar olhando, mas meus olhos insistiam em olhar. Ainda por algumas vezes, sem querer, meus olhos correram em direção aos fundos da loja, onde ele se encontrava sentado. Seu semblante era triste e o olhar tão distante. Os vendedores tentavam puxar conversa e alegrá-lo.

Minutos depois, já no caixa, concluindo a minha compra, não pude resisti. Não poderia sair daquele lugar sem saber de fato o que teria acontecido ao meu ex-colega. Perguntei reservadamente ao vendedor que me atendeu. Percebendo a minha curiosidade ele disse que há alguns meses aquele jovem havia se envolvido em um trágico acidente em outra cidade, o qual teve outros veículos envolvidos e várias vítimas fatais, inclusive de uma mesma família. E por consequência, seu braço esquerdo foi quase totalmente amputado. Surpreendi-me com a resposta, pois me recordei naquele exato instante de qual acidente se tratava e da repercussão dada pela mídia na época. Respirei. Olhei mais uma vez para ele. Na hora de sair da loja, despedi ao longe mencionando seu nome. Ele olhou para mim e acenou friamente. Fui embora e pelo resto do dia a sua imagem não saia de minha cabeça. Naquela noite tive insônia e não parava de pensar nesse reencontro com aquele ex-colega, e de seu olhar triste e tão distante.

Por Analítica
Foto: Divulgação
  



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