'A sangue frio' é um best-seller de autoria do escritor norte-americano Truman Capote. A obra foi escolhida propositalmente para a Dica de Leitura do Analítica em homenagear ao mês em que se comemora o Dia do Jornalista (07 de abril), e também, a mesma data do aniversário de 09 anos do blog Analítica. Por ser um clássico, o livro é um relato verdadeiro de um homicídio múltiplo e suas consequências, e marca o jornalismo literário, dando início a um novo gênero, o qual o autor definia de 'romance de não ficção'.
O enredo começa quando em 1959, ao ler uma notícia do assassinato de um fazendeiro e de sua
família em uma cidade chamada Holcomb, situada no estado do Kansas despertou o interesse de Truman Capote em investigar com
mais afinco, realizando um trabalho que mais tarde iria marcar o jornalismo literário e projetá-lo como um dos jornalistas/escritores
mais consagrados de todos os tempos.
Capote chegou a cidade um mês depois do crime e fez a reconstituição da cena. Ele
demorou seis anos para concluir a obra que somente
foi publicada em 1966 inaugurando o novo gênero o romance de não-ficção, um
trabalho que repercutiu muitas polêmicas.
O escritor aprofundou ao tema com riqueza de detalhes, um trabalho com mais de oito mil páginas de investigação que condensou numa obra de
422 páginas. Foram necessárias várias entrevistas incluindo a dos assassinos, aos quais ficou
próximo para obter informações. Uma das marcas registradas de
seu estilo próprio, é o fato de entrevistar grande número de pessoas sem necessitar fazer qualquer anotação ou gravvação.
No início da obra o autor faz a descrição da pacata cidade, como se pode observar na página 59:
“As pessoas que chegam a Garden City, depois que se adaptam ao silêncio da Main
Street toda noite acabam descobrindo muita coisa que dá razão aos louvores
defensivos de seus cidadãos: uma biblioteca pública bem administrada, um jornal
diário, praças gramadas e sombreadas, plácidas ruas residenciais onde animais
domésticos e crianças podem correr soltos com toda segurança...”.
Capote também
faz uma breve descrição dos moradores, na mesma página 59. “...os moradores da Garden City negam que a população local possa ser
diferenciada socialmente. ‘Não senhor. Aqui não há nada disso. Todos são
iguais, independentemente da riqueza, da cor ou da religião. Tudo do jeito que
deve ser numa democracia, assim é o que nós somos’, mas é claro, as distinções
de classe são tão claramente observadas e tão claramente observáveis, como em
qualquer outra colmeia humana”.
Do relato do
encontro entre os assassinos ele descreve os primeiros contatos. “Dick ficou
convencido de que Perry era aquela raridade, um ‘matador por natureza’ –
absolutamente são, mas desprovido de consciência, e capaz de conferir, com ou
sem motivo, golpes mortais totalmente a sangue frio”, páginas 84 e 85.
Na narrativa da cena do crime, o autor descreve precisamente cada detalhe para prender a atenção do leitor, como nos trechos a seguir:
“O som dos
nossos passos foi o que me deixou mais assustada, era tão alto e estava tudo
tão quieto. A porta de Nancy estava aberta. As cortinas não tinham sido
fechadas, e o quarto estava cheio de sol. Não me lembro de ter gritado... - gritei
e gritei. Só me lembro do ursinho de pelúcia de Nancy olhando para mim. E de
Nancy. E de sair correndo...”, pág. 90 e 91.
“Ela está morta!” E atirou-se em
seus braços. É verdade papai! Nancy está morta!”. Eu não entendia nada...
encontrei um telefone,...mas estava fora do gancho, e quando o peguei, vi que
os fios tinham sido cortados”. Pág 91.
“O sofrimento. O horror. Estavam
mortos. Uma família inteira. Gente boa, simpática, que eu conhecia – todos
assassinados. Eu precisava acreditar, porque era mesmo verdade”, página 97.
"Uma
tragédia, inacreditável e muito mais chocante do que as palavras conseguem
exprimir, atingiu quatro membros da família de Herb Clutter no fim da noite de
sábado ou no início do dia de hoje. A morte, brutal e sem motivo
aparente...", pág. 102.
Percebe-se que o autor vai conectando cada detalhe no desencadear dos fatos até a captura dos assassinos e de
seus depoimentos:
“E Hickock disse: ‘Foi Perry
Smith que matou a família Clutter’. Ergueu a cabeça, e endireitou lentamente o
corpo na cadeira, como um lutador nocauteado que se esforça para reerguer-se.
‘Foi Perry. Não consegui fazer ele parar. Ele matou todo mundo’”. Pág. 287.
Do julgamento dos assassinos até
o desvendar do crime. “Os agentes do KBI afirmaram que Hickock tinha dito que
ele e Smith invadiram a residência dos Clutter esperando encontrar um cofre com
pelo menos 10 mil dólares. Mas não havia cofre algum, e por isso eles amarraram
a família Clutter e mataram todos a tiros um por um” Pág. 287.
Da
sentença dos assassinos e do adiamento da pena e espera no Corredor da Morte, até o momento em que foram executados em 1965:
“Dois anos passaram. A partida de Wilson e Spencer deixou Smith,
Hickock e Andrews sozinhos com lâmpadas acesas e as janelas veladas do Corredor
da Morte”, pág. 395.
“E foi assim que ao amanhecer
daquela manhã de quarta-feira, Alvim Dewey, tomando seu café da manhã na
cafeteria de um hotel de Topeka, leu na primeira página do Star de Kansas City,
a manchete que havia muito ele esperava: MORTE NA FORCA POR CRIME SANGRENTO. A
matéria começava assim: ‘Richard Eugene Hickock e Perry Edward Smith, comparsas
no crime, foram enforcados hoje na prisão estadual por um dos crimes mais
sangrentos dos anais criminais do kansas. Hickock de 33 anos, morreu primeiro,
às 00h41; Smith, de 36, morreu às 01h19...’”
Para
finalizar o autor relata a volta do detetive Alvim Dewey à cidade onde ocorreu
o crime onde ele visita o túmulo da família Clutter. “...ele voltou para a sombra das
árvores deixando para traz o vasto céu e o murmúrio das vozes do vento que
curvava o trigo”, pág. 422.
Por: Analítica
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