Em agosto, além de comemorar o dia dos pais, no segundo
domingo, também é especial para mim por ser o mês do aniversário de meu pai
Angenor, dia 31, meu painho que amo muito. Ele simplesmente é o meu maior
exemplo, o modelo de honestidade, de caráter, de superação, de pai, de homem.
Ele sempre me incentiva e me aconselha nos momentos mais difíceis em que sinto
medo, dúvidas e preciso de atenção.
O que temos em comum talvez seja a inquietação. Eu o desafio, e ele me desafia.
Mas eu adoro quando ele enfim se rende aos meus argumentos e percebe que tenho
razão e que eu cresci. Tudo bem que quando era pequena, ele a jogou fora minha
fita cassete da Xuxa, que deu problema de tanto que eu a ouvia. No instante em
que o pedi para arrumar, ele egou a da minha mão e a jogou do outro lado da
rua. Ele haje rápido! Mas a nossa comunicação é muito boa, e esse, acredito que
seja o motivo pelo qual nos entendemos bem e eixo norteador para que eu
conseguisse sua confiança. Sempre com diálogo. Ele é meu amigo, meu confidente.
Somos sete irmãos e nas minhas lembranças da infância bastava que meu pai
olhasse de lado e com o semblante fechado, já entendíamos que ele estava nos
repreendendo por algum erro.
Ele sempre trabalhou fora e a casa só estava completa com
sua presença. Às vezes quando eu já estava dormindo, ouvia o barulho do
caminhão chegando em frente casa, e isso me fazia sentir mais tranquila e
segura. Ele abria a porta do quarto para nos ver. Aliás isso é algo que ele faz
ainda hoje, principalmente aos domingos pela manhã. Outras vezes eu e meus
irmãos íamos encontra-lo na praça do antigo Mercado Municipal, onde ele também
costumava estacionar o caminhão. Depois de abraça-lo, retornávamos para casa
juntos.
Em épocas em que a família era grande, os domingos costumavam ser animados. Era
o único dia em que a mesa era afastada da mesa. As panelas eram grandes e
fartura nunca faltou, principalmente aos domingos quando galinha caipira
preparada por minha mãe era um prato exclusivo. Lembro que uma vez minha
catequista perguntou o que meus pais faziam para manter a família unida e eu
lembrando desse fato comum nos nosso domingos lá em casa respondi que minha mãe
fazia “galinha caipira”. À tarde depois que painho acordava todos íamos para o
quintal e ele partia uma saborosa melancia.
Meu pai nasceu no povoado de Ponte de terra e perdeu seus
pais muito cedo, por isso foi criado com seus padrinhos Anezima e Manoel. Teve
uma infância pobre, limitada e desde cedo confeccionava seus carrinhos e
caminhões de brinquedo, motivo que o incentivou a buscar com persistência seu
maior desejo, o de se tornar autônomo ao adquirir seu primeiro caminhão, sonho
que se concretizou somente aos 52 anos. A data ainda lembro, era 20/02/2002.
Apesar de cursar até a 4ª série do antigo primário, seu senso de autodidata se
configurou em rimas dos versos do Testamento de Judas, que são relatos em forma
de versos de cunho jocoso acerca de personagens e da história de São Desidério,
realizado por ele aos sábados de aleluia em praça pública. Mas este é um
assunto que quero tratar com mais ênfase em outro texto. Penso que herdei um
pouco dessa sua sensibilidade para a escrita, versos, rimas e que isso de certa
forma contribuiu para me tornar uma jornalista. Penso também que ele poderia
ser um bom repórter, pude comprovar isso durante seu acompanhamento a algumas
viagens no período em que eu e minhas colegas Jackeline e Luciana buscávamos
histórias para embasar nosso livro-reportagem Um rio de histórias, um projeto que
ele apoiou. Sempre de vez em quando ele opina sobre alguma coisa que deveria
escrever, como por exemplo uma das primeiras árvores plantadas na avenida JK
desta cidade, como já contei por aqui. Ah! Ele também gosta de tirar muitas
fotos e fazer seus registros. Essa é outra característica comum entre nós.
Uma de minhas descobertas foi saber que ele toca flauta
rústica. Sempre soube que ele gosta muito de samba, mas não sabia que ele
dominava esse instrumento. Le não fica parado, mesmo nos fins de semana sempre
está a procura de algo para fazer, consertar. Gosta de acompanhar vaquejadas,
ligar o som do carro bem alto e tomar sua cervejinha de vez em quando. Mas
também é muito teimoso!
Muitas vezes pode ser difícil reunir todos os irmãos, mas acredito que todos se
espelharam um pouco na personalidade de painho, admiram o seu esforço para
conquistar seus objetivos porque ele trabalhou tanto desde pequeno, quantas
noites mal dormidas para dar o sustento a família, tantas vezes que sentiu
fome, frio e dor sem ter ninguém por perto para ajudá-lo. Por tudo isso e muito
mais é que o amo muito. Que Deus o abençoe e lhe dê saúde para continuar
alegrando e influenciando seus filhos a ser pelo menos um pouco do que ele é.