Avó é como segunda mãe. Lembro-me de quando ainda pequena costumava brincar na casa da vó com minhas primas. O quintal cheio de plantas, o pé de manga onde costumávamos subir e das aulas de ponto de cruz que tinha como mestra a mais exímia das bordadeiras que São Desidério poderia ter. Uma arte que foi passada para nós, suas netas. As primeiras aulas eram reservadas a pequenos pedaços de étamine que aos poucos era preenchido com desenhos que ganhavam formatos de laranjas, maças, losângulos. A vó nos cobrava que o avesso do bordado fosse limpo, só depois disso é que começávamos a fazê-los em guardanapos, panos de pratos e posteriormente aprendíamos a bordar nossos próprios nomes em toalhas de banho, fase que já assinalava progresso. Aquelas que se dedicaram mais alçaram bordados em almofadas, caminhos de mesa, panos de fogão, entre outros. Mas talvez o sonho das netas seria dominar bordados considerados maiores como as enormes toalhas de mesa, denominadas de banquete que só a vó fazia e que por vezes exigia meses de trabalho. Uma das características de seu bordado é que o fazia com amor e muita dedicação e por esse motivo ela costumava receber muitas encomendas da cidade e até mesmo de outros estados. O bordado sempre deu o tom da ornamentação na casa da vó, seja por sobre o fogão, a mesa da sala, da antiga prateleira da cozinha, no aparador do filtro, na velha máquina de costurar encostada na copa.
O vô e a vó |
- Por isso que o ginete não rende aqui!. E riamos.
Cabeça branquinha, voz tranquila, corpo encurvado pelo tempo e pelo ofício do bordado, vó é dona de um dos sorrisos mais contagiantes. Na casa laranja, ao lado do Centro Cultural, na rua Dr. Valério de Brito a imagem de uma senhora sentada em sua cadeira de couro ao entardecer é convidativa para uma boa prosa que possa talvez lhe arrancar uma de suas altas gargalhadas.
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