sexta-feira, julho 15, 2022

K.(B. Kucinski)

 


K. de B. Kucinski, é uma ótima sugestão de livro de ficção da Literatura Brasileira.

“Embora cada história de vida seja única, todo sobrevivente sofre em algum grau o mal da melancolia. Por isso, não fala de suas perdas a filhos e netos; quer evitar que contraiam esse mal antes mesmo de começarem a construir suas vidas”, pág. 178.

K. é uma obra envolvente, profunda e a narrativa é marcada por culpa, traumas, memórias, esperança, lembranças que perseguem um pai em busca de pistas da filha, desaparecida durante a ditadura militar.

“O pai que procura sua filha desaparecida nunca desiste. As esperanças foram-se, mas não desiste. Agora quer saber como aconteceu. Onde? Quando exatamente? Precisa de saber, para medir sua própria culpa. Mas eles não dizem nada”, pág. 98. 

A obra de Bernardo Kucinski é baseada na história do desaparecimento de sua irmã, Ana Rosa. 

O autor utiliza dois fatos históricos para contextualizar a narrativa: a ditadura militar brasileira e o Holocausto que vitimou milhões de judeus.

“Oito anos depois a tragédia, K. tenta adivinhar naquele punhado de flagrantes, qual teria sido a última imagem da sua filha? (...) Mas ele não tinha um álbum de fotografias da filha. Tão ocupado com a literatura e seus artigos para os jornais, disso nunca havia cogitado”, pág. 128.

Viver a procura de um ente querido, destrinchar cada capítulo de um fato histórico que marcou tantas famílias. B. Kucinski descreve o passo a passo da saga de K. em busca de indícios da filha utilizando uma linguagem literária que revela o tom de melancolia e de incerteza presentes na figura do personagem principal. 

A passagem que mais marcou: “Alguns conheceram sua filha e o marido, eram da mesma organização clandestina, todos conheciam a história, inclusive quem os havia delatado. Sabiam que já estava morta havia muito tempo”, pág. 187.

Por Analitica


domingo, julho 03, 2022

Casas vazias (Brenda Navarro)


Em 'Casas vazias' embarcamos com a autora mexicana Brenda Navarro em uma dramática história contemporânea, que fala de perda e culpa materna. 

O episódio do desaparecimento de uma criança de três anos, passa a nortear o enredo. Daniel ou Leonel são a mesma criança.

Os capítulos são alternados com os depoimentos de duas mães, personagens narradoras da história e seus nomes não são revelados. 

A primeira, perde o filho em questão de segundos e não nutre o desejo de ser mãe. Já a segunda, tem em outro momento, às mãos, a criança desaparecida e o sonho da maternidade realizado. 

Em meio ao contraste das narrativas, das desigualdades sociais vividos pelas duas mães, biológica ou do coração, e do sentimento de culpa expressado por elas ao longo das três partes em que o livro é dividido, a autora não revela o desfexo.

O título da obra acrescenta para a relação que a autora estabelece entre as personagens, assimilando as mulheres e as casas, como um lugar de solidão. " [...] enquanto nós mulheres, nós olhavámos confusas e impávidas, porque isso era o que tínhamos que fazer: sermos casas vazias para abrigar a vida ou a morte, mas no fim das contas, vazias", pág. 88.

A obra, que tem por curador Emílio Faria, e foi indicação de leitura do mês de maio pela TAG Livros Experiências Literárias (Curadoria).

Por Analítica




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