"Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos sou eu que escrevo o que estou escrevendo. Deus é o mundo. A verdade é sempre um contato interior e inexplicável". Como segunda leitura para concluir este mês de maio, escolhi a obra 'A hora da estrela', de Clarice Lispector. Este livro marca meu primeiro contato com a obra da autora, realizado em fevereiro de 2017. E agora, optei por fazer esta releitura para deixar registrada aqui no Analítica.
É comum na narrativa da autora algumas intervenções, como exemplo, pode-se ver nesse trecho. "Nesses últimos três dias, sozinho, sem personagens, despersonalizo-me e tiro-me de mim como quem tira uma roupa. Despersonalizo-me a ponto de adormecer (...) E agora emerjo e sinto falta de Macabéa. Continuemos". E ainda, a autora faz indagações ao leitor como para despertar sua reflexão de mundo: "Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo - como a morte parece dizer sobre a vida - porque preciso registrar os fatos antecedentes".
O enredo gira em torno da personagem central Macabéa, que recebeu esse nome em homenagem a Nossa Senhora da Boa Morte. Sem pai e mãe desde cedo, a jovem alagoana foi criada por uma tia moralista no Rio. Após a morte da tia ela passa a dividir um quarto com algumas moças e trabalha como datilógrafa. Ouvir a Rádio Relógio é um de seus passa-tempo e seu sonho é um dia se tornar uma estrela de televisão. O namorado Olímpico, que trabalha como metalúrgico, a troca por sua amiga, Glória.
Tão simples, tão ingênua, a jovem Macabéa vive sem cuidados uma vida miserável em que comia pedaços de papel para saciar a fome. Ao descobrir que tem tuberculose e até mesmo sem se dar conta da gravidade da doença, é aconselhada pela amiga Glória a ir em uma cartomante para saber a sua sorte. A madame Carlota prevê um futuro emocionante para a garota, no qual ela iria se casar com um gringo muito rico. O enredo termina com uma tragédia em que a jovem é atropelada por um carro de luxo, logo em frente a calçada da cartomante, e ali mesmo morre sem receber nenhum socorro de quem assiste.
Por quê sempre escolho ler Clarice? Ora, porque é sempre tão leve, uma leitura agradável para esse momento de tantas incertezas, de dúvidas em que o mundo está tenso por uma pandemia. Faz parte da escrita da autora a tentativa de desvendar a essência humana e o modo simples de ver as coisas, as pessoas e o mundo. Nos faz também buscar, dentro de nós mesmos uma reflexão acerca do que estamos fazendo de bom nesse mundo e para os outros.
"(...) Que ninguém se engane, só conheço a simplicidade através de muito trabalho".
Texto: Analítica
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