quarta-feira, junho 26, 2019

Saberes Ambientais do Cerrado (Professor Valney Dias)


‘Saberes Ambientais do Cerrado’ é a leitura escolhida desse mês. O livro foi idealizado por meio de um projeto denominado 'Veredas Vivas', desenvolvido a partir de 2008 na região de Ponte de Mateus, povoado do município de São Desidério pela Agência 10envolvimento, vinculada à Pastoral Social da Diocese de Barreiras, o propósito desse projeto era apresentar e valorizar o 'modo geraizeiro' de conviver no Cerrado. 

Os reflexos do Projeto Veredas Vivas atraíram os professores da UFOB, Valney e Mário Alberto a encabeçarem nessa mesma região o  Projeto Saberes Ambientais do Cerrado cujo objetivo era o "desenvolvimento de diálogos de saberes ambientais contextualizados com os modos de vida das comunidades geraizeiras nas áreas de Cerrado do Oeste Baiano", página 14.


Autor autografando a obra que ganhei da amiga Anna Cláudia Soares
A obra inicialmente faz um apanhado histórico e reporta à década de 1980, destacando registros do trabalho social do padre Gunter Gnadlinger, membro da Comissão Diocesana da Pastoral da Terra que se sensibilizou com os relatos de sofrimento dos geraizeiros da região de Ponte de Mateus, e o convívio com a pressão e cobiça dos grileiros. "Queremos ver as coisas do nosso modo. Estão grilando as nossas terras. O que me revolta é que medem o preço do Gerais em sacos de soja. Que seja pelo menos em sacos de pequi!", página 11.

Com o tempo as famílias foram incentivadas e se mantiveram firmes e resistentes na região, como se pode atestar nessa passagem do livro: "Uns geraizeiros da região de 'Ponte de Mateus', localizada num cerrado belíssimo na bacia do Rio Guará, deram uma resposta exemplar: firmaram um pacto entre si de não cederem às pressões dos grileiros. E conseguiram se impor, ao menos parcialmente. Não obstante, à vergonhosa realidade, a região de 'Ponte de Mateus' continua sendo alvo preferencial da cobiça de grileiros (um dos mais conhecidos é Marcos Valério, publicitário que orquestrou o escândalo dos 'Mensalões') e até nos dias atuais, muitas famílias persistem em sua jornada geraizeira na 'Ponte de Mateus' e redondezas", página 10. 


Professor Valney explica sobre a produção da obra
O livro foi publicado em 2016, contém 78 páginas e é dividido em quatro capítulos: 1 - Itinerários, desafios e resultados do projeto; 2 - As paisagens e os lugares no Vale do Baixo Rio Guará; 3 - Saberes e fazeres nas comunidades tradicionais da micro-bacia do Rio Guará e 4 - Exercícios e estudos dirigidos sobre saberes tradicionais ambientais e educação ambiental. "No passado, fiquei com vergonha quando me chamaram 'geraizera'. Hoje, tenho isto como maior orgulho, pois amo nosso Gerais", página 11.

A obra foi pensada para atender aos moradores que vivem na região que integra o Vale do Guará,  sendo resultado de um trabalho de pesquisa de dois anos e estudos desenvolvidos com estudantes e comunidade da Escola Municipal Ovídio Francelino de Souza localizada no povoado de Ponte de Mateus. Além de Ponte de Mateus, a região contempla também os povoados de Currais, Cera, Pedras, Larga, Riacho de Fogo, Vereda Grande e Contagem. "As paisagens do Cerrado no baixo vale do Rio Guará compõem o mundo dos seus moradores; comunidades tradicionais identificadas como povos geraizeiros. Seu modo de vida nos Gerais tem relação íntima com a flora e a fauna do Cerrado...com os rios, riachos e córregos que cortam as Veredas da região", página 36.

A narrativa explica acerca da metodologia utilizada pelos autores durante o processo de produção do livro, o relato das oficinas de cordel, de fotografia, das reuniões, o resgate e transcrição de lendas e depoimentos coletados a partir da observação dos costumes, da cultura local e do contato com os participantes e comunidades tradicionais geraizeiras. "A mãe que morreu. Ressuscitou no mesmo dia. Comeu muito buriti, arroz e carne. Depois disse: No futuro terá gafanhotos que vão dizimar o povo aqui tudo. E a noite do mesmo dia morreu definitivamente", página 20.


Ao final dos capítulos, o livro apresenta ainda questionamentos acerca da temática que reforçam a reflexão dos leitores. "Nestas reuniões foram estabelecidos, junto com a equipe pedagógica e os estudantes geraizeiros, os temas geradores: as paisagens e os lugares; os saberes e os fazeres por meio de brincadeiras, tradições e crenças, e os produtos da sociobiodiversidade, que orientam o desenvolvimento das metodologias com linguagens verbais e não verbais no espaço escolar e vivido pelas comunidades geraizeiras", página 21.

Em suma, a obra é super recomendada para quem quer conhecer acerca do Vale do Rio Guará pois exalta as riquezas do Cerrado presente no nosso município de São Desidério e das tradições e costumes das comunidades tradicionais geraizeiras. Li e recomendo! 


Participantes da primeira edição do Clube da Leitura Saberes Ambientais do Cerrado
Clube de Leitura da SEMATUR - A obra foi escolhida para nortear as discussões da primeira edição do Clube de Leitura Saberes Ambientais do Cerrado’, e dá nome ao projeto idealizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo (SEMATUR), de São Desidério. O evento foi  realizado na tarde de 12 de junho na Lavanderia Cultural e teve como convidado o professor Valney Dias Rigonato, da Universidade Federal do Oeste Baiano (UFOB) , um dos responsáveis pela produção do livro, que conduziu a apresentação da obra aos participantes. 


Funcionários da Sematur, professor Valney e colaboradores do Clube da Leitura
Segue abaixo a poesia de autoria de Silvânia das Virgens de Jesus, moradora do Vale do Guará.

O Cerrado e o nosso país!


O Cerrado é importante

Isso eu posso te falar
Trabalhamos com muita força
Pra o Cerrado preservar
O país onde eu vivo
Existe muita beleza
O povo pode ser pobre
Mais o país é uma riqueza
O que mais me alegra,
é ter o Cerrado preservado.
Se não tivermos consciência
Tudo vai ser se acabando.
Se as árvores forem derrubadas,
onde os pássaros vão morar?
Onde vamos preservar?


Por Analítica




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