Hoje, 10 de junho de 2019, data do aniversário do centenário do barreirense e ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, Eurypedes Pamplona, relembro este momento em que ele visitou São Desidério para participar da 13ª edição do Clube da Leitura, projeto da Biblioteca Municipal Dom Ricardo Weberberger, realizada em 20 de agosto de 2015, em comemoração a passagem do Dia do Soldado, celebrado em 25 de agosto.
Com presença de estudantes das escolas estaduais e particulares do município, o então 1º Tenente João Paulo Pinheiro, autor do livro 'Tiro, guerra e mito: a história de um barreirense na Segunda Guerra Mundial', obra em discussão no evento, relatou sobre a produção do livro e fatos da vida de seu protagonista, a infância, juventude, de quando foi convocado para servir à Força Expedicionária Brasileira e a Segunda Guerra Mundial, o retorno à Pátria e a família. Ao final os sócios leitores do clube homenagearam seu Eurypedes entregando uma placa de honra ao mérito.
Confira abaixo um texto sobre seu Eurypedes publicado pelo Analítica em 04 de maio de 2010.
Memórias de um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial
Nascido em Barreiras em 10 de junho de 1919, Eurypedes Lacerda
Pamplona é filho de Manoel Messias Pamplona e Arlinda Lacerda Pamplona. Na
infância o pai trabalhou como funcionário de uma empresa de Telégrafos para
sustentar os sete filhos. Aos 19 anos, Eurypedes se alistou e teve a
oportunidade de viajar de avião para o Rio de Janeiro onde morou por quatro
anos. Com a criação do dia do reservista teve de apresentar seus documentos que
foram apreendidos, de modo que não pôde sair da cidade até ser convocado para
servir à guerra. Esse dia não tardou muito. Após o Brasil entrar na guerra em
agosto de 1942, dois dias apos ele foi convocado. Certa noite quando chegava do
cinema à pensão onde morava encontrou seus amigos que lhe esperavam tristes
para anunciar sua convocação à guerra. “Naquele momento me faltou as pernas,
quase caí, mas não tive escolha, não podia sair da cidade porque meus
documentos estavam presos”, disse Eurypedes.
Os dois anos seguintes foram de
intenso treinamento no 2º Regimento de Infantaria num campo utilizado por todas
as forças armadas. Em meio ao treinamento pesado perdeu amigos e podia presumir
que estava cada vez mais próxima uma realidade muito mais difícil e dias
piores.
Em 1944 partiu para Itália a
bordo do navio Meighs. Apesar de boas instalações, os enjôos eram inevitáveis.
Depois de quinze longos dias desembarcaram em Nápoles. Os soldados se alojaram
em uma espécie de depósito distante do Front onde eram identificados e
organizados em companhias de 200 homens cada, sempre em exercício esperando
chegar o grande momento. No Front os soldados estavam em combate todo o tempo.
Quando morriam, mais soldados eram requisitados de cada companhia. Ao chegar
sua hora, Eurypedes foi com fé e confiança. Por fazer parte da Divisão de
Infantaria sua posição no Front era de ataque. Como metralhador contava com o
auxílio de dois soldados municiadores.
Foram dez meses em combate.
Além do perigo dos ataques, os soldados também tinham o frio como companhia.
Alguns adoeciam e eram hospitalizados. “A neve chegava a quase um metro. As
atividades eram interrompidas e iniciava-se o cessar fogo no Front. Somente os
carros patrulha estavam em atividade e se cruzassem com o inimigo não restava
ninguém vivo”, relembra Eurypedes. A tropa não tinha folga, apenas revezavam
quando o capitão determinasse quem iria para a reta-guarda, assim os soldados
tomavam banho, após oito dias mais ou menos. A miséria e o estado de calamidade
vivenciada pelos italianos nesse período sensibilizavam os soldados que se
solidarizavam distribuindo um pouco de seus alimentos a quem passava fome. O
Natal deste ano para Eurypedes, certamente foi o mais triste de sua vida.
Sozinho em um hospital de campanha em Livorno, abalado por uma bomba que caiu
em um local próximo.
Quando os brasileiros não mais
tinham esperança, a invasão do Monte Castelo foi um dos episódios que ficaram
marcados para sempre na memória do ex-combatente. “Havia uma ponte de acesso
que era destruída durante o dia pelo inimigo e reconstruída por nós à noite.
Foi uma tomada muito difícil e muita gente morreu. Depois de três tentativas
fracassadas a conquista foi um sonho para nós”, afirmou Pamplona.
Em meio ao caos, mais de dois
mil soldados brasileiros e cerca de 65 milhões de pessoas ao todo morreram
durante a guerra. As imagens estão presentes nos pesadelos do ex-combatente até
hoje.
O fim da guerra em 30 de abril
de 1945 foi a notícia mais esperada pelos soldados que festejaram com alegria e
muita vontade de retornar à Pátria. Esse retorno não aconteceu de imediato por
causa da logística. Durante os três meses na Itália após a guerra, Eurypedes
teve a oportunidade de conhecer muitos lugares e dançar a tarantela.
O regresso foi organizado a cada
cinco mil homens. O primeiro escalão chegou ao Brasil em 17 de setembro de 1945
recebido calorosamente pela população carioca na Baía de Guanabara. Foram
homenageados e receberam medalhas de campanha. No Rio Eurypedes permaneceu por
mais seis anos e já se considerava um carioca. Mas ainda assim sentia muita
falta da família e retornou à sua cidade natal. Em Barreiras foi acolhido com
muita festa e homenagens. Ao longo do tempo foi convidado para participar de
eventos como desfiles cívicos e cerimônias no 4º Batalhão de Engenharia e
Construção (BEC), além de entrevista à emissora de TV local e palestra em
escolas da cidade. Em seus relatos, Eurypedes Pamplona diz não sentir orgulho
de ter participado da guerra, mas por amar o exército conserva a ideia de que
servi-lo é uma das melhores oportunidades para disciplinar uma pessoa.
Por: Analítica
Fotos: Acervo Biblioteca Municipal / Eurypedes Pamplona