“Tenha a coragem de viver, pois
qualquer um pode morrer (...) As pungentes últimas palavras que Frida escreveu
em seu diário foram: Espero que a caminhada seja feliz e dessa vez espero não
voltar”. Minha segunda leitura de março foi escolhida em homenagem ao mês
dedicado às mulheres. Adquiri o livro ‘O Segredo de Frida
Kahlo’, que além de um
investimento, também foi minha companhia para os primeiros dias desse período
de Quarentena.
Narrado em terceira pessoa, em cada um dos 24 capítulos de ‘O
Segredo de Frida Kahlo’, o escritor mexicano Francisco Gerardo Haghenbeck traz uma mistura
de ficção e realidade. Afinal, não se pode falar de Frida Kahlo sem falar de
drama, sofrimento, paixões, curiosidades, fragilidades, e é claro, temperadas
com muitas pinceladas de feminismo, sabores, cores, exageros, artes,
política, militância, desafetos, bravura e tudo o que representa a trajetória histórica
dessa grande artista mexicana.
A terceira de quatro filhas do casal Guilhermo e Matilde, Frida era a menos
feminina delas. Na ausência de um filho, ela foi educada como um filho varão. Da
poliomielite que lhe acometeu aos seis anos ficou a sequela de uma perna menor
que a outra, motivo que a chamavam de ‘perna
de pau’ e que a fez usar saias longas por toda a vida. Desde cedo já se interessava por arte. De família religiosa,
acostumou-se a dizer que não tinha religião. Na Casa Azul, onde morou a maior
parte da vida e onde recebia amigos e conhecidos, muitas foram as lembranças.
Apaixonou-se pelo líder de sua classe, Alejandro Gómes Arias e em sua
companhia, em um passeio de bonde, sofre um terrível acidente, no qual um tubo
metálico lhe atravessa a pélvis, além de fraturar a coluna em três pedaços, quebrar a
clavícula e também as costelas. Esse episódio marca seu primeiro encontro com a
morte, a qual passa a chamar de ‘Madrinha’. Em vários momentos a narrativa
destaca a figura imaginária de um cavaleiro que surpreende os pensamentos de
Frida como um prenúncio de morte. Ela pede a sua madrinha que a deixe viver, e
como condição para atender ao pedido, todos os anos ela passa a lhe oferecer um
banquete em homenagem ao Dia dos Mortos, celebrado em 02 de novembro. “- Frida se o que você quer é me brindar com
sua reverência, terá de fazer uma boa oferenda todos os anos (...) Mas aviso:
você sempre vai desejar ter morrido hoje. Eu vou me encarregar de lembrá-la
disso a cada dia da sua vida”, página 51.
Nas várias interferências do discurso direto de Frida que permite a
narrativa, o leitor por vezes divaga em seus pensamentos, aflições, desamores,
e também suas descobertas, traições e relações extraconjugais também com amigas
próximas. Ao final de cada capítulo são apresentadas receitas culinárias que ela registra
em um caderno de capa preta que chamava de ‘Livro
da erva santa’. Trata-se de uma coleção das receitas usadas no banquete que
ela tanto se dedicava a erguer no altar da oferenda aos mortos.
Dotada de uma personalidade forte, engenhosa e que não ficava atrás quando queria dizer verdades, Frida passou a se interessar por questões políticas. “...e assim que se recuperou de seu acidente, dedicou-se totalmente à militância, abraçando o Comunismo para afogar nele seus desamores”.
Frida casa-se com o também pintor Diego Rivera, seu grande amor que a
trata de ‘minha menina Frida’ ou ‘Friducha’. O relacionamento é marcado por
sofrimento, dor e traições de ambas as partes. É com Diego que Frida partilha também
sua paixão pela arte. As sequelas do acidente no copo de Frida não permitem que
o casal tenha filhos. Ela até engravida, mas não consegue levar a
gravidez adiante, motivo pelo qual ela fica ainda mais depressiva.
Frida acolhia a todos em sua casa e fazia questão de mostrar seus dotes culinários. A residência do casal no
México foi abrigo para Leon Trótski e
sua esposa perseguidos pelo Fascismo de Stalin. Nessa oportunidade, a ocasião
torna-se favorável também para o relacionamento secreto entre Frida e Trótski.
Já no fim da vida, doente e debilitada pelas dores que lhe acompanharam ao longo de tantos anos, seu semblante aparentava mais idade do que vivera. "Os olhos cor de café estavam distantes, perdidos em razão das muitas doses de drogas que se sujeitavam para aliviar as dores e da tequila em que afogava seus desamores (...) Aqueles olhos que outrora haviam sido labaredas quando Frida falava de arte, política e amor, eram agora brasas a ponto de extinguir-se, eram olhos distantes, tristes, mas sobretudo cansados".
As fotos que
ilustram este post reúnem elementos pessoais adquiridos ou que me foram
presenteados. Além do livro que sinaliza mais um investimento para o meu acervo pessoal, adquiri uma boneca
de feltro produzida pelo Ateliê da Anna Cláudia, um funko produzido pelo Cubo
Biscuit, um quadro com ilustração da artista que comprei em uma viagem a Brasília e também uma blusa que ganhei de presente da amiga Mikaela da loja Toda Bella, expressam minha
admiração pela história e obra dessa grande artista mexicana.
“As pessoas continuam
sua vida quando você morre. O relógio não se detém para nenhum mortal”.
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Texto e fotos: Blog Analítica