O 13º livro escolhido para partilha da leitura no mês de novembro pelo Analítica, é 'Todos contra todos: o ódio nosso de cada dia' do autor Leandro Karnal. "Para quebrar a cadeia do ódio, a primeira tarefa é parar de ensiná-lo as crianças. Interromper esse fluxo de ódio exige interromper a educação do ódio".
A princípio, a obra me chamou a atenção por dois motivos, sendo o primeiro pela capa, pois quis entender a ideia da ilustração da bandeira do Brasil, na qual substitui-se 'Ordem e progresso' por 'O ódio nosso de cada dia'. E o segundo motivo, por desconhecer o estilo do autor. Não exitei em comprá-lo numa livraria na última viagem, embora a dúvida sobre levar ou não a obra me acompanhasse ainda na fila do caixa. "O ódio tem motivos psicológicos, psicanalíticos, de instrumentação política. O ódio integra mais do que qualquer outra coisa. O ódio integra mais do que qualquer outra coisa. O ódio mostra minhas fraquezas".
Na obra, o então professor e doutor Leandro Karnal, faz reflexões históricas acerca do ódio, destacando palavras e expressões mais comumente utilizadas. "...o preconceito é um discurso elaborado, seguido consciente ou inconscientemente para estabelecer uma forma de manter contato. Sua principal arma é a 'generacusação'. Ou seja, quando um homem dirige mal, ele é barbeiro, um incompetente, um aloprado. Quando uma mulher dirige mal, ela representa todas as quase 3,5 bilhões de mulheres do planeta. E portanto, 'tinha de ser mulher'".
'Todos contra todos' é certamente uma aula de história. Em vários momentos, além de recorrer a fatos marcantes e conquistas históricas relacionada a evolução das relações, o autor faz um paralelo entre a história do Brasil e do mundo. "O mundo lida muito mal com a diferença. Formamos guetos há séculos. Criamos ônibus com lugares para brancos e negros nos EUA. Mas quando você sai do gueto e age, a reação costuma ser violenta".
Por vezes, a sensação de ler o livro foi a mesma de como se estivesse tido a oportunidade de estar presente em uma das palestras do autor, sensação que me motivou a fazer várias anotações e pesquisas de personalidades e fatos históricos durante a leitura. "Um homem fracassa no seu projeto amoroso. O que é mais fácil? Culpar o feminismo ou a si? A| resposta é fácil. Tenho certeza absoluta de que o autor do crime não era um leitor de Simone de Beauvoir ou Betty Friedan. Era um leitor de jargões, de frases feitas, de pensamento plástico e curto que se adaptava a sua dor". (...) "O Brasil ser o país que mais vende chapinha no mundo e tem a maior tecnologia de chapinha do planeta. O Brasil ser o país de cabelo liso como padrão de beleza diz muito sobre nós". (...) Quanto mais frágil a sociedade julga ser uma pessoa, mais a atacará. As mulheres negras sofrem ainda mais do que as brancas. Misogenia e racismo são um cruzamento desastroso".
O que impressiona também são os exemplos, fundamentações teóricas e comparações que o autor faz todo o tempo para explicar coisas tão simples, de modo que tornam possível entender porque o ódio está tão presente nas diversas relações do dia a dia. "A violência é do outro, nunca minha. Somos um país violento. Violentos ao dirigir nas ruas, violentos nos comentários e fofocas, violentos ao torcer por nosso time, violentos ao votar". (...) "A violência contra a mulher é histórica e cultural e deve aumentar à medida que a consciência feminina trouxer essa questão cada vez mais à tona para debate. Ela deve aumentar exatamente porque as mulheres com toda a razão e muita dignidade, estão enterrando um período histórico de aceitação da violência, estão enterrando séculos de tolerância ao assédio, séculos de ocultação a violência doméstica".
Também são destaques reflexões sobre a relação do ódio com a globalização e a internet. "O ódio não é igual em todos os lugares, mas continua sendo muito forte. Pequenos e grandes males estão presentes em nós desde sempre. A globalização apenas capilarizou o conhecimento, fez com que bobagens alcançassem escala global e diluiu a autoridade internacional de tal modo que tudo passou a ter o mesmo patamar". (...) "O problema é que hoje a escola nem de longe é o principal abastecedor de informações de uma criança ou de um jovem. Ao chegar à escola ele já tem acesso pela simples posse de um celular, a um mundo maior. Portanto, só a construção do consenso por meio da formação não basta".
E ao final o autor conclui apresentando que só por meio da coesão e consenso pode-se haver uma possível solução para o problema do ódio. "A solução natural para o problema do ódio está no aumento de dois pólos: o da coerção e do consenso. A coerção se consegue por meio de leis como a do crime de racismo, a punição para homofobia, a proibição de violência contra crianças, a Lei Maria da Penha. A do consenso é conseguida por meio da educação".
Todos contra todos: o ódio nosso de cada dia (Leandro karnal), li e recomendo!
Título: Todos contra todos: o ódio nosso de cada dia
Autor: Leandro Karnal
Páginas: 143
Editora: LeYa
Por Analítica