Quando se fala em do Quando se fala em
dona Francisca da Ponte de Terra, muitas lembranças boas me surpreendem.
Algumas delas estão relacionadas ao dia 06 de agosto, data em que os fiéis
rendem homenagens a Bom Jesus da Lapa, que marca também o dia da reza na casa
da dona Francisca, ou como a vó a chamava, ‘cumade Chica’. Para as netas da
dona Si, esse dia, há alguns anos atrás, significava um dia especial, de
passeio e diversão. A reza costumava começar por volta das 13 horas, então
arrumávamos cedo e íamos em comitiva, a pé, pela estrada de chão batido. A vó,
suas filhas e nós, primas. A casa de dona Francisca ficava repleta. Afinal,
muita gente de toda a redondeza costumava ir à Ponte de Terra neste dia para
prestigiar a reza.
Chegando lá, a vó e nossas mães se
dirigiam para dentro da casa, onde a primeira sala era preparada para a reza.
Uma mesa forrada com toalha branca, uma imagem do santo ao centro, e ao redor,
vários ramos, que ao final da reza costumavam ser distribuídos pela dona da
casa aos participantes. Enquanto isso, as crianças se dirigiam logo para o
enorme quintal que circulava a casa. As mães logo alertavam aos gritos:
- Não vão ficar encarreirando no
quintal não, viu! E cuidado com os foguetes!
No quintal, as crianças corriam, e o
estouro dos foguetes era intercalado com o som das mulheres que cantavam os
benditos dentro da casa. Ao lado esquerdo da casa, um pé de seriguela era a
nosso lugar preferido, onde ficávamos brincando por horas e nos divertíamos
muito. Mas o episódio mais engraçado do qual me recordo, foi de um certo ano,
em que estávamos em cima do pé, cada uma em uma galha, e de repente, a prima
Patrícia escorregou e ficou dependurada pela barra do vestido em um dos galhos.
Assustada e chorando, ela ficou por alguns segundos balançando, com medo de o
vestido rasgar e cair no chão. Até que um adulto correu para socorrê-la. Para
nossas mães, que a essa altura já estavam envolvidas na reza, não havia mais
motivos para nos deixar lá fora brincando. Não teve outra solução, a não ser
nos chamar para dentro da casa, onde ficamos até a reza acabar.
A dona Chica
gostava muito de rezar, sua reza em homenagem a Bom Jesus costumava demorar um pouco,
pois ela pedia as rezadeiras para cantarem muitos benditos. Lembro que ela
pedia para nós, netas da Si, para cantar uns cantos da igreja também.
Depois de terminada a reza e dos ramos
entregues, os participantes já estavam espalhados pela casa e principalmente
pelo quintal, onde eram servidas as petas, as brevidades, suco e batidas. Outra
lembrança que tenho da dona Francisca era do carinho que ela tinha por vó. Ela
pedia para vó reunir sua comitiva e se sentar na saída da porta da cozinha, que
dava para o quintal, e entregava a ela uma grande vasilha cheia de farofa de
carne de porco. Hummm!! Posso sentir aquele cheiro do tempero da farofa, sempre
tão deliciosa! A vó fazia a divisão e comíamos satisfeitos. Aquela farofa já
era uma marca registrada de sua reza. Sempre tinha.
Essas são apenas algumas
lembranças da minha infância relacionadas à pessoa da dona Francisca, a ‘cumade
Chica da vó’. Uma guerreira, um exemplo de fé, humildade, e de mulher que
batalhou para criar seus filhos e testemunhar o amor de Deus em sua vida,
partindo na véspera do dia em que se comemora o Dia Internacional da Mulher. E
sua despedida hoje, nesse 08 de março de 2018, nos faz lembrar do
grande exemplo de mulher que foi!
Por: Analítica