Lembro com muita saudade do São João da minha infância.
Daquela tarde fria do dia 23 de junho, véspera da data oficial do São João,
comemorado em 24, quando as famílias preparavam para acender as fogueiras em
frente às casas. Era uma das datas mais aguardadas do ano. As paneladas de
canjica que podíamos encontrar em qualquer casa que visitássemos.
A noite de luar, céu estrelado com fogos a iluminar. Lembro-me
das típicas bombinhas de salão que comprávamos para estourar, pois minha mãe
não deixava que eu e minha irmã soltássemos traques. Minhas primas compravam
traque e nós admirávamos isso porque era proibido para nós. Mas sempre nos
encontrávamos na casa da vó Si à noite para, ao redor da fogueira, onde a
família se reunia para conversar e proferir versos a São João enquanto um a um,
realizava o tradicional pular da fogueira. E lá estávamos, eu e minha irmã
soltando bombinhas de salão enquanto minhas primas soltavam traques.
O cheiro da fumaça na roupa e no cabelo era inevitável. Mas
era uma sensação muito boa, olhar as ruas de antigamente, ainda sem asfalto, e contemplar
a fileira de fogueiras em frente às casas. Era raro a casa que não tinha
fogueira acesa. Hoje ocorre o inverso. Depois de certo tempo esse costume
tornou-se aos pouco esquecido pela população dos centros urbanos que não
apresenta mais o mesmo entusiasmo para vivê-la. Sempre quando posso, costumo
nessa data recorrer à zona rural onde a tradição ainda predomina.
A imagem que se configura do São João na zona rural é da
fogueira sobre o chão batido aconchegando o encontro de famílias. A panela de
quentão fica na brasa o tempo todo dividindo espaço como o milho que assa.
Enquanto jogam conversa fora deliciam-se com canecos e canecos de canjica e
outras iguarias típicas como o pé de moleque, amendoim torrado. O luar é tão
bonito e nítido por conta da pouca iluminação e o céu estrelado se enfeita com
fogos. E para completar a paisagem um forrozinho pé de serra para animar e
espantar o frio.